segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Eu acreditei


Joaquim, uma grande decepção

Gerson Tavares






Um dia cheguei a acreditar que o Brasil poderia se salvar desse mar de lama que envolve os nossos políticos, mas pelo que dá para entender, neste momento a lama já envolveu toda a Suprema Corte.

Não faz muito tempo e o ministro Joaquim Barbosa recebeu uma correspondência que enumerava deslizes de um juiz e então ele mandou em resposta que aquele documento fosse endereçado ao Conselho de Magistratura. Claro que na ocasião achei que caberia a ele, presidente do STF, encaminhar à quem de direito, mas como ele estava muito ocupado com os processos no STF, até aceitei aquele posicionamento.

Acreditando no homem, vi que, com uma política “podre” como a que atualmente “rola” pelo Brasil e vendo ainda que o ministro relator do “mensalão” acabara de ser conduzido a presidência da Corte, senti que ele estava encarando um momento de moralização do quadro político e qualquer tempo era pouco dar um jeito naquela "baderna" que havia se instalado na política. E assim, pensei que seria ele, o ministro, poderia ser a salvação do Brasil. Se transformando de ministro em Joaquim, poderia sim, ser o caminho para a guinada que o Brasil precisava dar. Não para ser o presidente da República, mas para “botar ordem na casa” e quem sabe levar o Brasil até àquela eleição geral que poderia afastar todos os “politiqueiros ladrões” e dar uma “cara limpa” ao País, criando assim uma “Nova República”.

Pois ainda estava acreditando que era chegada a “hora da virada”, quando veio a grande decepção. Joaquim resolve dizer que ganha pouco em um País onde o salário mínimo é de fome. 

E então conta uma “estória de Cingapura”: "Há três anos e meio fui participar de um congresso na cidade de Heidelberg, na Alemanha, de Cortes constitucionais. Eu estava sentado ao lado de um juiz argentino, membro de uma corte Argentina. A gente tinha participado de um debate. De repente sobe à tribuna um grande advogado de Cingapura. Alguém pergunta ao advogado: ‘Quanto ganha um juiz da Suprema Corte de Cingapura?’. Ele vira para a plateia e fala: ‘Um milhão e meio de dólares por ano’. Foi uma risada geral, ninguém acreditou que um juiz pudesse ganhar um salário desses. Perguntaram: ‘Por que um milhão e meio de dólares?’. Ele disse: ‘Porque lá em Cingapura todos acham que isso é normal, eles têm que ganhar um salário de mercado. Se não tiver uma remuneração desse nível, tendo em vista as atribuições, as responsabilidades altíssimas que ele tem, não terá como exercer com independência as atribuições do seu cargo’. O assunto morreu aí. Mas em janeiro deste ano recebi o ministro da Justiça de Cingapura. Lá pelo meio da conversa, levanto essa questão. Perguntei para ele: ‘É verdade que um juiz da corte suprema de Cingapura ganha um milhão e meio de dólares?’. A resposta dele: ‘Não, é bem mais. O presidente (da suprema corte) ganha dois milhões de dólares, os ministros ganham um milhão e meio’. Fiquem com essa história. Ela é verdadeira."

Bem, depois de ler essa “estória da carochinha”, comecei a meditar quem é o Joaquim Barbosa. Aquele ministro que relatou o “mensalão” e que mostrou ser ético, ou este Joaquim Barbosa que está mais preocupado com seu salário? Será que ele um dia pensou quanto ganha aquele professor que fez dele este ministro de hoje? Será que ele já pensou, um dia se quer, quanto ganha aquele médico que cuida de sua coluna, a mesma coluna que já o tirou de combate durante algumas sessões do TSF?

E mais. Quanto ganha um médico brasileiro que está atendendo no SUS e quanto ganha um médico em Cingapura? E os professores brasileiros, que vivem em luta quase que diária para ter um pequeno aumento de salário? Será que eles ganham perto daquilo que ganha um professor em Cingapura?

Joaquim, você pisou na bola. Você sentou na maionese e está tudo "cagado". Você se igualou a qualquer outro que só pensa no próprio umbigo. Num País que o salário mínimo não chega a R$ 700, você acha que ganhar R$ 28.000 é pouco?

Então um ministro que ganha R$ 28.000 pode ser tentado a aceitar suborno e “fazer uma lei” para bandidos? Não posso acreditar que isso passou pela sua cabeça. Seria uma grande decepção ver que assim como pensam Lula, Dilma, Dirceu, Genoino e tantos outros que sempre se disseram éticos, mas que metem a mão no cofre sempre que têm uma oportunidade, a sua ética também acaba onde começa a imoralidade.

Joaquim, você sabe quanto ganha hoje um aposentado que se aposentou há 10 anos com oito ou dez salários? Procure saber e garanto que você vai ficar envergonhado em falar de aumento do seu salário.

Não destrua a sua imagem mais do que já conseguiu. Mostre que você estava de brincadeirinha quando falou aquela baboseira toda e limpe o seu nome pedindo desculpas ao povo brasileiro.

O povo merece respeito.

Um comentário:

Arnaldo Campos disse...

Infelizmente quando se fala em dinheiro, o próprio bolso fala mais alto. Mas o ministro Joaquim Barbosa não tinha direito de decepcionar tanta gente que estava acreditando nele.
E agora vamos ter que pensar em uma nova saída. Porque até Joaquim Barbosa já virou as costas ao povo.
Lapa - São Paulo