Cabral, um voador

Lá vai o Cabral

Gerson Tavares

 

Quando alguém fala em baderna no Brasil, fala em Lula, mas quando é no Rio de Janeiro, aí não tem jeito, dá Cabral na cabeça. Por isso, o Ministério Público do Rio instaurou procedimento para apurar se há irregularidades na utilização de helicópteros da frota oficial do Estado pelo governador Sérgio Cabral, que é do PMDB, partido aliado ao governo federal. O procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira, vai oficiar a Secretaria Estadual da Casa Civil, requerendo informações sobre o uso das aeronaves, não só pelo governador, mas também por sua família.

Tudo isso começou depois de uma reportagem da revista “Veja”, que mostrou que o luxuoso modelo Agusta AW 109 Grande New, adquirido em 2011 por US$ 9,7 milhões, na época apenas R$ 15,2 milhões, é utilizado aos fins de semana pelo governador e por sua família. Segundo a revista, os voos de Cabral e sua família custam R$ 3,8 milhões aos cofres públicos por ano.

Como ninguém é de ferro, às sextas-feiras a aeronave leva a primeira-dama, Adriana Ancelmo, os filhos do casal, as babás e até o cachorro da família para Mangaratiba, onde a família Cabral tem uma bela mansão. Mangaratiba, para quem não sabe, fica logo ali, no litoral sul do Estado, uma viagem que poderia ser feita com todo o conforto de automóvel, mesmo com o combustível saindo do bolso do povo. Já no sábado, é a vez do Sérgio Cabral Filho pegar a sua aeronave e seguir também para Mangaratiba. Depois de final de semana maravilhoso, ao final do domingo o helicóptero faz dois voos de volta ao Rio: no primeiro viajam Cabral e a família; os empregados são transportados no segundo.

Esta rotina, que já é conhecida de todos os moradores do município, foi agora revelada à Veja por pelo menos dois pilotos e um funcionário do heliponto do Estado, que não foram identificados. E para ter certeza daquilo que escrevia, outro funcionário do heliponto foi ouvido pela reportagem e confirmou as informações.

Por incrível que possa parecer, Cabral utiliza diariamente helicópteros oficiais para ir ao trabalho, isto apesar de a distância entre seu apartamento, no Leblon, e o Palácio Guanabara, sede administrativa do governo do Estado, em Laranjeiras, ambos na zona sul do Rio, ser de apenas dez quilômetros pelas ruas da zona sul. Não podemos esquecer que Cabral mora a uma distancia de 7 quilômetros do heliporto do Estado, este, localizado na Lagoa Rodrigo de Freitas, também pelas ruas da zona sul. Claro que pelo ar, essa quilometragem diminui muito, certo?

Assim sendo, os deputados da oposição, Marcelo Freixo, do PSOL, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, do PSDB, e Paulo Ramos, do PDT, apresentaram à presidência da Assembleia Legislativa denúncia por crime de responsabilidade e quebra de decoro contra o governador, que é o primeiro passo para o pedido de impeachment. Também entregaram representação ao Ministério Público Federal, pedindo investigação pelo crime de peculato.

Freixo, que não “papas na língua”, falou: "O governador está dizendo que seus deslocamentos em trajetos curtos têm amparo legal. Mas não têm amparo moral. É um completo abuso. Ele não se pronuncia sobre o uso privado, o transporte da sua família, das babás e até do cachorro. Isso não tem amparo legal, nem moral".

Já para Luiz Paulo Corrêa as denúncias são graves. "Um voo de sete quilômetros em perímetro urbano não guarda o princípio da razoabilidade", afirmou.

'Mas após sair de uma reunião em Brasília com os ministros Miriam Belchior, do Planejamento e Aguinaldo Ribeiro, das Cidades, Cabral ficou “irritadinho” ao ser questionado por jornalistas sobre o uso dos helicópteros do Estado. Ele afirmou que ficou "chateado" com a foto publicada pela revista em que aparece seu filho utilizando o helicóptero, segundo ele, como se estivesse cometendo alguma irregularidade. Mas ninguém escreveu que o menino estava roubando o helicóptero e sim, passeando no brinquedinho que o papai lha deu.

A assessoria de Cabral, que resolveu não responder as arguições sobre os gastos com os deslocamentos de helicóptero do governador, limitou-se a encaminhar a mesma nota que já havia distribuído no domingo. "O governador Sérgio Cabral encara como uma perseguição ao seu mandato informações que soem como ''denúncias'' quanto ao uso de helicópteros do Estado para utilização pessoal".

Alô Cabral... Não é perseguição da imprensa e sim, um abuso do governador em usar o que não é sua propriedade para passear com a família.

Aliás, ele leva o cachorro, mas a sogra, nem pensar. Alô Dicro! Você tinha razão ao falar que "sogra não é parente".

Mas aqui ficam as perguntas que não querem calar: "E cachorro? É parente?".