sexta-feira, 16 de março de 2012


Tortura emocional

Gerson Tavares



A maioria das pessoas já esqueceu que um incêndio destruiu a base brasileira lá na  distante Antártica. Mais de quinze dias se passaram e como a vida é muito agitada e muitas coisas acontecem todos os dias, ficam no esquecimento casos como aquele que até hoje atormenta duas famílias brasileiras.

As famílias do sargento da Marinha, Roberto Lopes dos Santos e do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo, que morreram tentando combater o fogo na Estação Comandante Ferraz, continuaram com o  sofrimento da perda, na tentativa de sepultá-los.

Os corpos chegaram no dia 28 de fevereiro à Base Aérea do Galeão, vindos de Punta Arenas, no Chile, e foram liberados pelo Instituto Médico-Legal (IML) do Rio na sexta-feira, dia 9 de março, depois de feitos os exames de DNA.

Mas mesmo depois de tudo feito, os corpos continuaram lá no IML. Os parentes, revoltados com a demora, reclamaram que as informações sobre o caso eram sempre desencontradas.

Até a noite de terça-feira não existia previsão oficial sobre quando seriam realizados os sepultamentos. A família de Roberto Lopes estava aqui perto, em Nilópolis, no Rio de Janeiro, lutando para ter o direito ao sepultamento do ente querido, mas ainda mais doloroso era o caso dos familiares de Carlos Alberto, que ainda não sabiam nem sequer, quando seria o translado do seu corpo para a Bahia.

E com razão eles falavam que foi bem mais fácil os corpos serem trazidos da Antártica para o Brasil do que serem liberados para sepultamento e no caso de Carlos Alberto, ainda tendo que sair do Rio de Janeiro e ir para Salvador.

É bom lembrar que a Marinha de Guerra fez uma cerimônia onde eles foram colocados como heróis, mas será que aquele ato foi sincero ou foi só para dar uma satisfação à opinião pública?

Os parentes dos dois heróis reclamavam que depois daquele oba-oba, ninguém falou mais nada com eles. Eles chegaram até a fazer um apelo à presidente Dilma, ao Ministério da Defesa e ao governo do Estado do Rio.

Por tanto, depois que em uma cerimônia realizada na Base Aérea do Galeão, os militares receberam homenagens e foram promovidos há segundos-tenentes, ficaram no esquecimento. O vice-presidente Michel Temer, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, além dos comandantes das três Forças Armadas, participaram daquela solenidade. Dilma Rousseff, mesmo não estando presente, afirmou que o Brasil é um país formado por “heróis anônimos” e anunciou também que a base do país na Antártica seria reconstruída. Os corpos foram identificados pelo Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética Forense da Polícia Civil do Rio.

Tudo nos conformes, tudo como mandava o figurino, mas o sepultamento estava no esquecimento e só depois que o jornal “O Globo” fez uma matéria com os familiares dos heróis, só após 17 dias, foram liberados os atestados de óbito. Só depois que as famílias criticaram publicamente a demora dessa liberação, ela aconteceu. O corpo do sargento Roberto foi sepultado ontem no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro e o do suboficial Carlos Alberto saiu do Rio ontem pela manhã com voo direto para Vitória da Conquista, na Bahia. 

Para mim, isso é o que podemos chamar de “tortura emocional”. Será que a “Comissão Verdade” vai ver esses casos também?

Um comentário:

Vilma Gama disse...

Você tem razão quando pergunta se a Comissão Verdade vai tomar alguma atitude em relação a este crime que cometeram com as famílias dos verdadeiros heróis brasileiros. Mas será que esse governo está preocupado com o povo?
Ilhéus BA