Tortura
emocional
Gerson
Tavares
A
maioria das pessoas já esqueceu que um incêndio destruiu a base brasileira lá na
distante Antártica. Mais de quinze dias
se passaram e como a vida é muito agitada e muitas coisas acontecem todos os
dias, ficam no esquecimento casos como aquele que até hoje atormenta duas
famílias brasileiras.
As
famílias do sargento da Marinha, Roberto Lopes dos Santos e do suboficial
Carlos Alberto Vieira Figueiredo, que morreram tentando combater o fogo na
Estação Comandante Ferraz, continuaram com o sofrimento da perda, na tentativa de sepultá-los.
Os
corpos chegaram no dia 28 de fevereiro à Base Aérea do Galeão, vindos de Punta
Arenas, no Chile, e foram liberados pelo Instituto Médico-Legal (IML) do Rio na sexta-feira, dia 9 de março, depois de feitos os exames de DNA.
Mas
mesmo depois de tudo feito, os corpos continuaram lá no IML. Os parentes, revoltados
com a demora, reclamaram que as informações sobre o caso eram sempre desencontradas.
Até
a noite de terça-feira não existia previsão oficial sobre quando seriam realizados os sepultamentos. A família de Roberto Lopes estava aqui perto, em
Nilópolis, no Rio de Janeiro, lutando para ter o direito ao sepultamento do
ente querido, mas ainda mais doloroso era o caso dos familiares de Carlos
Alberto, que ainda não sabiam nem sequer, quando seria o translado do seu corpo para a Bahia.
E com razão eles falavam que foi bem mais fácil os corpos serem trazidos da Antártica
para o Brasil do que serem liberados para sepultamento e no caso de Carlos
Alberto, ainda tendo que sair do Rio de Janeiro e ir para Salvador.
É
bom lembrar que a Marinha de Guerra fez uma cerimônia onde eles foram colocados como heróis, mas será que aquele ato foi sincero ou foi só para dar uma
satisfação à opinião pública?
Os
parentes dos dois heróis reclamavam que depois daquele oba-oba, ninguém falou
mais nada com eles. Eles chegaram até a fazer um apelo à presidente Dilma, ao
Ministério da Defesa e ao governo do Estado do Rio.
Por
tanto, depois que em uma cerimônia realizada na Base Aérea do Galeão, os
militares receberam homenagens e foram promovidos há segundos-tenentes, ficaram no esquecimento. O
vice-presidente Michel Temer, e o ministro da Defesa, Celso Amorim, além dos
comandantes das três Forças Armadas, participaram daquela solenidade. Dilma Rousseff,
mesmo não estando presente, afirmou que o Brasil é um país formado por “heróis
anônimos” e anunciou também que a base do país na Antártica seria reconstruída.
Os corpos foram identificados pelo Instituto de Pesquisa e Perícia em Genética
Forense da Polícia Civil do Rio.
Tudo
nos conformes, tudo como mandava o figurino, mas o sepultamento estava no esquecimento e só depois que o
jornal “O Globo” fez uma matéria com os familiares dos heróis, só após 17 dias,
foram liberados os atestados de óbito. Só depois que as famílias criticaram publicamente a
demora dessa liberação, ela aconteceu. O corpo do sargento Roberto foi sepultado ontem
no cemitério do Caju, no Rio de Janeiro e o do suboficial Carlos Alberto saiu
do Rio ontem pela manhã com voo direto para Vitória da Conquista, na Bahia.
Para
mim, isso é o que podemos chamar de “tortura emocional”. Será que a “Comissão
Verdade” vai ver esses casos também?
Um comentário:
Você tem razão quando pergunta se a Comissão Verdade vai tomar alguma atitude em relação a este crime que cometeram com as famílias dos verdadeiros heróis brasileiros. Mas será que esse governo está preocupado com o povo?
Ilhéus BA
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