sexta-feira, 27 de março de 2009

O luxo amanhece no Carandiru


Eliana Tranchesi, dona da Daslu,
pega 94 anos e meio de prisão



SÃO PAULO – Ela está acostumada aos salões de luxo da capital paulista, mas agora vai ter que desfilar pelas as celas superlotadas da Penitenciária Feminina do Carandiru, na Zona Norte de São Paulo. Ela é a empresária Eliana Tranchesi, dona da maior loja de alto luxo do País, que foi condenada pela 2ª Vara Federal de São Paulo a 94 anos e meio de prisão. A sentença expedida na quarta-feira motivou, ontem às seis horas, a prisão, pela segunda vez, da dona da Daslu e de outros dois acusados em crimes de formação de quadrilha, falsificação de documentos e fraudes em importações.

Joyce Roysen, advogada de Eliana, entrou ontem mesmo com recurso contra a decisão e pedido de hábeas corpus e prisão domiciliar. A defesa alegou que a empresária tem câncer no pulmão e nos ossos e, atualmente, precisa de tratamento radioterápico e quimioterápico.

No entanto, de acordo com o procurador Matheus Baraldi Magnani, do Ministério Público Federal, o fato de os réus serem acusados de integrar uma organização criminosa faz com que eles percam o direito de recorrer em liberdade. “Trata-se de um grupo articulado, muito confiante em sua condição social, nos contatos políticos e em seus padrinhos”, afirmou o procurador Magnani.

Mesmo não tendo nada na constituição que garanta ao bandido o direito de praticar crimes de formação de quadrilha, de falsificação de documentos e ainda de fraudar importações, em nota, Joyce afirmou que a prisão de Eliana é “inconstitucional” e “excêntrica”. Mas como a excentricidade está em cada detalhe dos últimos quatro anos da Daslu, cuja história começou a ser revelada a partir da Operação Narciso, da Polícia Federal, torna-se ironia o teor da nota. Auditores e policiais descobriram subfaturamento de até 9.000% nas importações.

Na decisão, a juíza Maria Isabel do Prado usa um exemplo para demonstrar as fraudes do grupo: “Verifica-se que o valor de uma calça da Marc Jacobs é de 150 dólares. Todavia, o valor declarado para importação foi de apenas 20 dólares”, explica a magistrada. Na sentença mais sete denunciados foram incluídos e todos com mandados de prisão expedidos. Foram presos ontem Antônio Carlos Piva de Albuquerque, irmão de Eliana e ex-diretor da loja, também condenado à 94 anos e meio, e Celso de Lima, da importadora Multimport, uma das empresas usadas pelo grupo.

Em carta manuscrita que foi divulgada ontem, Eliana se defende: “Não vejo sentido em estar presa novamente. Não represento perigo para a sociedade”, diz um trecho da mensagem. Para a juíza do caso, porém, Eliana merece ainda maior reprovação, posto que a conduta da acusada, proveniente da cobiça em busca da acumulação de riqueza proveniente de meios ilícitos. Ao decidir pela prisão, a juíza diz que os réus são uma ameaça à ordem pública, e foi categórica ao afirmar: “se ficarem em liberdade, certamente voltarão a delinquir”.

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