Viciado não tem vontade

Gerson Tavares

Depois que São Paulo deu a saída, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro decidiu começar a internar, de forma compulsória, adultos usuários de crack. A Secretaria de Saúde foi encarregada de criar o que tem sido chamado de “residências terapêuticas”, clínicas com capacidade para abrigar até oito pessoas. O governo quer que essas atividades comecem entre março e abril. E aí começa a minha preocupação. Será que até março ou abril tudo não irá cair no esquecimento? E outra coisinha: “E os menores? Vamos deixar morrer pelas ruas?”.

Bem, de acordo com o planejamento da prefeitura, os dependentes irão, num primeiro momento, para setores específicos de hospitais municipais, onde o tratamento será iniciado. Depois, serão levados para as novas clínicas.

Mas aí começam as dificuldades. Para que este programa possa ser iniciado, depende da criação de, pelo menos, cem vagas nas residências terapêuticas, que terão médicos, psicólogos e enfermeiros. Estas clínicas serão ligadas à Secretaria de Saúde e deverão ser administradas por Organizações Sociais. Quando falam em OS eu já fico com a pulga atrás da orelha. Até agora não vi uma OS que Obtivesse Sucesso.

Pelo menos uma coisa eu já sinto alívio, quando vejo que a opção pela internação involuntária fez com que a prefeitura suspendesse a proposta de dar uma bolsa para parentes de usuários de crack. A ideia havia sido levantada pelo Adilson Pires, vice-prefeito e secretário de Assistência Social. Eu não sei, mas esse Adilson Pires eu não engulo. Para zero a esquerda ele ainda tem muito terreno para capinar.

Basta ver que a internação será para os adultos e, no entanto ela é opção para suspender a tal “bolsa atleta”, quer dizer, “bolsa crack”. Então esse dinheiro era para familiares que tivessem maiores viciados? Ah, sim, para que eles tivessem mais dinheiro para comprar a droga.

Mas e os menores? Pelo menos vão ter enterro de graça?

Aí tudo bem.