quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


A hipocrisia continua tomando conta da Saúde

Gerson Tavares





É olhando um juramento como aquele que falamos ontem, tão sério, que vejo como também é séria a situação daqueles que precisam de atendimento médico: senão, vejamos algumas manchetes de jornais no Brasil.

Vamos lembrar algumas manchetes de jornais: MÉDICOS ENTRAM EM GREVE E DEIXAM DE ATENDER PACIENTES EM ALAGOAS: médicos da rede estadual de Alagoas iniciaram nesta terça-feira (11), por tempo indeterminado, a greve anunciada na segunda (10) e suspenderam em 100% o atendimento nos ambulatórios do Estado. Nas unidades de saúde de emergência, 30% dos profissionais devem continuar trabalhando, obedecendo à legislação. A categoria afirmou que somente retoma os trabalhos se houver avanços nas negociações do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) e a garantia de realização de concurso público.

MÉDICOS DE BRASÍLIA DEIXAM DE ATENDER NA REDE PÚBLICA PARA DAR CONSULTAS PARTICULARES: Médicos do hospital público mais movimentado de Brasília usavam o horário de trabalho para atender pacientes em consultórios particulares. A denúncia chegou ao secretário de Saúde que demitiu a chefe do setor.

HOSPITAL NO RIO DEIXA DE ATENDER EMERGÊNCIAS: Médicos do Hospital Federal de Bonsucesso decidiram interromper desde ontem o atendimento na emergência da unidade. A decisão foi motivada por superlotação e um caso de contaminação por superbactéria. Por causa de uma obra, a emergência funciona em um contêiner há um ano e oito meses, com capacidade para 35 pacientes, mas recebe mais que o dobro. Tatiana Aparecida depende da consulta com um endocrinologista para fazer uma cirurgia, e não tem previsão de atendimento. Há dois meses, ela espera por uma vaga nos hospitais públicos da capital do país.

IDOSA MORRE APÓS TER CAFÉ COM LEITE INJETADO NA VEIA: A família de uma idosa que morreu no Posto de Atendimento Médico (PAM) de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, na tarde deste domingo, acusa uma estagiária da unidade de aplicar, por engano, café com leite na veia da paciente. Palmerina Pires Ribeiro, de 80 anos, estava internada desde 3 de outubro com pneumonia e problemas renais. Segundo os parentes, o estado dela era grave, mas Palmerina estava consciente e se recuperando. A manicure Ângela Batista, de 39 anos, disse que a avó teria alta na segunda-feira.

FALTAM MÉDICOS E PACIENTE MORRE NA PORTA DO HUSE: Familiares denunciam que homem chegou ao hospital respirando e que não foi atendido por falta de médicos.

E para que não passemos mais tempo vendo desgraças, vamos direto ao caso mais recente, que aconteceu no Hospital Salgado Filho, no bairro do Meyer, no Rio de Janeiro: NEUROCIRURGIÃO É ACUSADO DE OMISSÃO DE SOCORRO NO CASO DA MENINA ATINGIDA POR BALA PERDIDA: O neurocirurgião Adão Crespo dos Santos foi o médico que faltou ao plantão no Hospital Salgado Filho, no Méier, Zona Norte do Rio, no dia em que a menina Adrielly dos Santos Vieira, de 10 anos, foi baleada na cabeça em Pilares. Adrielly esperou por oito horas para ser atendida. Adão Crespo dos Santos foi afastado de suas funções no hospital. O médico pode ser indiciado por omissão de socorro e caso seja indiciado e condenado, ele poderá pegar pena que varia de um mês a 1 ano e meio de detenção. Eu não poderia deixar de comparar sua pena a muitos outros, políticos ou aqueles que se fazem funcionários públicos pendurados nos cabides dos partidos aliados. Nunca punidos dentro da seriedade da lei. Mas também não posso deixar de lembrar que em 2006 esse mesmo médico, Adão Crespo, foi afastado de um outro hospital, este, um hospital federal, pelo mesmo motivo.

E foi exatamente por tudo isso que vem acontecendo e que ainda irá acontecer todos os dias, que fui buscar num passado um pouco mais distante, a mais de três décadas, um artigo que foi escrito pelo médico, de saudosa memória, José Pompeu Tomanik, que era membro da Academia de Medicina de São Paulo. E este artigo que foi escrito a mais de 30 anos, está bem pertinente à atualidade. 

Senão vejamos: Ao ser questionado sobre o ‘Juramento de Hipócrates’, ele assim começa seu artigo: 

“Desses juramentos, destacam-se as orações: 1) Não usarei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime; 2) Não revelarei os segredos que me forem revelados. A imagem do médico atual, muitas vezes, não deixa de causar uma certa estranheza, assim também como causam as dos atuais padres, pastores, freiras, magistrados, pais e mães de família. Por que tanta celeuma, se os médicos que trabalham aos sábados, domingos, feriados, plantões intermináveis e desgastantes estão desesperados com a insignificância dos seus salários, que muitas vezes são inferiores ao de uma empregada doméstica?

Qual é o vestibular mais difícil de passar? Qual é o único curso universitário que exige dedicação integral, aulas em dois ou mais períodos? Qual é o curso em que a partir do terceiro ou quarto ano o estudante não tem mais férias? Se os médicos, após seis anos de curso regular, têm que fazer mais três anos de residência, qual é o curso universitário mais longo? Por que no fim de uma carreira de médico no serviço público, este não pode ganhar como, merecidamente, ganha um juiz substituto ou um militar no início da sua carreira?

É evidente que existem maus médicos, talvez, tanto quanto haja maus profissionais nas outras carreiras. Por que se criaram tantas escolas de medicina, a ponto de dizer-se que toda cidade do interior desejava ter uma fonte luminosa e uma faculdade de medicina, se não há mercado de trabalho para o médico?

Por que os médicos jovens, e alguns até de certa idade, têm que correr em três ou quatro empregos, serem mal remunerados para perfazer um salário igual ou menor de qualquer engravatado, daqueles ‘experts’ em vendas, finanças ou relações públicas, que, na maioria das vezes, possui formação sumária?

Por que os médicos residentes não podem ser equiparados aos ‘aspirantes ao oficialato’ das carreiras militares em questões salariais se também são obrigados a dedicação exclusiva?

Hospitais como as Santas Casas há muito deixaram de ser instituições de caridade. Antigamente, eram denominadas instituições de ‘Mão Morta1’, porque viviam de doações de pessoas ricas que tinham morrido. Acontece isso hoje? É preciso que os governos reconheçam melhor a situação desses médicos, atualmente, exercendo profissão muito menos liberal do que se pensa.

Nessas poucas questões, verifica-se que o médico só é importante quando faz falta, tendo valor apenas quando não são encontrados. Pois, em hipótese alguma, uma ambulância pode demorar tanto para chegar, assim como uma radiopatrulha ou um carro do corpo de bombeiros. Melhor seria que eminentes homens públicos, governantes e legisladores, reunidos com os dignos e nem sempre úteis assessores, reconhecessem que estão aviltando a retribuição que devem para o trabalho das mãos que trazem os homens ao mundo, tratam de suas doenças e dos seus familiares, bem como que irão gratuitamente assinar seu ‘passaporte’ para o outro lado”.

Por tudo que José Pompeu Tomanik escreveu ainda na década de 1990, tudo que hoje acontece já estava previsto. E como sempre, por culpa dos senhores governantes que sempre estiveram do lado daqueles que são capazes de um tudo para levar vantagem, mesmo que para isso, deixe morrer a população. Por essas e outras é que precisamos urgentemente, já não podemos mudar a ética da maioria dos médicos, mudar AQUELE TÃO SÉRIO juramento de Hipócrates, para “JURAMENTO DOS HIPÓCRITAS”. 

3 comentários:

Vilma Oliveira disse...

Juramento de hipócritas é ótimo. Mas no fundo, a culpa de tudo que vem acontecendo na saúde é o mesmo que acontecendo na educação. Falta comando.
Médicos faltam ao plantões e ninguém fala nada, até que acontece uma desgraça e aí o clado entorna. Mas porque o ministro e os secretários de Saúde não fiscalizam?
Ah, sim... Isso dá trabalho.
Rio de Janeiro

Laura Cortes de Pádua disse...

Hipócrates está revirando na tumba com tantos casos escabrosos que acontecem nos dias de hoje.
Mas tudo isso só acontece porque o exemplo vem de cima.
Se não temos mandatários à altura, os que vem abaixo se acham no direito de fazer as mesmas barbaridades.
Claro que os políticos quando faltam não fazem falta, mas médico, esse é necessário a vida.
Belo Horizonte

Sandro Costa disse...

Mas essa hipocrisia ira perdurar ainda por muito tempo. Do modo como a coisa está nesse Brasil, nunca mais vamos ter respeito pelo povo. Mas também, diga-se de passagem, este povo não se impõe. Votar com respeito é o mínimo que o eleitor tem que fazer.
Feira de Santana - Bahia