segunda-feira, 21 de janeiro de 2013


O uso do cachimbo faz a boca torta.

Gerson Tavares





A impunidade está sendo levada a sério no Brasil. Começando pela política, que em todas as esferas tanto na Executiva, como no Legislativo e até mesmo no Judiciário, o caminho está sendo traçado por todos aqueles que têm seus cargos públicos. Uma grande maioria daqueles que estão ocupando cargos públicos, está formada por gente que faz questão de não ser honesta.

Há poucos dias tivemos um caso no Rio de Janeiro que diz bem o que vem a ser essa “barbárie” profissional. Estou falando do caso do neurocirurgião Adão Orlando Crespo, que por não comparecer ao plantão no Hospital Municipal Salgado Filho, deixou que a menina Adrielly perdesse a vida por falta de uma cirurgia.

Adão deu várias versões para justificar sua falta, inclusive falando que avisou ao seu superior que não iria dar aquele plantão, mas a verdade está muito longe de qualquer versão que tanto Adão como qualquer outro médico da unidade possa dar. A Delegacia Fazendária passou a fazer investigações sobre a falta de atendimento que resultou na morte da menina Adrielly e elas comprovaram que, Adão há pelo menos cinco anos não trabalhava no hospital. Esta informação está confirmada pela polícia e não tem como negar seus crimes.

E esses absurdos só vêm à tona quando acontece alguma morte e mesmo assim se a família colocar a “boca no trombone”. No caso de Adão, as faltas vieram à tona depois que ele não compareceu ao plantão na unidade na noite do dia 24 de dezembro, quando a menina Adrielly dos Santos, de 10 anos, baleada na cabeça, teve de esperar oito horas por uma cirurgia. A criança morreu no dia 4 de janeiro, no Hospital Municipal Souza Aguiar, para onde havia sido transferida. Mas pelo que consta, muitos outros médicos estão no mesmo esquema de roubar o município, o estado e a federação.

E nesse crime que resultou na morte de Adrielly, segundo a titular da Delegacia Fazendária, delegada Izabela Santoni, Adão tem cúmplice, já que outro médico do Hospital Salgado Filho trabalhava nos plantões no lugar de Adão Crespo. Isso acontece há mais de cinco anos. Este cúmplice usava a matrícula do Adão e tirava os plantões por ele.

Mas Adão é um grande “cara de pau” e nega que faltasse ao plantão há cinco anos, mas confirmou que usava um substituto. Diz ele que essa é prática comum entre os médicos do Hospital Salgado Filho há cerca de dois anos. Com essa afirmativa, Adão está querendo dizer que há dois anos ele roubava o município.

Claro que esse crime de “roubo” está mais ou menos autorizado e a Secretaria Municipal de Saúde agora tem que se virar para provar que as autoridades não sabiam de nada. Segundo a Secretaria, um processo administrativo disciplinar já está instaurado vai apurar todos os aspectos do caso para definir as responsabilidades e aplicar aos eventuais responsáveis às sanções previstas.

Como depois da casa arrombada a ordem é colocar a tranca nas portas e janelas, a Secretaria já afastou preventivamente dos cargos de chefia dois funcionários que trabalhavam na noite do dia 24 de dezembro no Hospital Salgado Filho. O chefe do plantão, Ênio Lopes, e o chefe do setor de recursos humanos, Alexandre Moreira de Carvalho, vão ter que dar explicações. Mas será que não é hora da Secretaria, que está correndo atrás para ver quem são os culpados pelo crime de morte da Adrielly, e incluir no mesmo processo quem pode ser enquadrado pelo crime de roubo.

Disse Izabela Santoni, que a polícia já solicitou ao hospital os prontuários do neurocirurgião Adão Orlando Crespo, mas está encontrando dificuldade para receber o documento. Mas a delegada é mais esperta e já tem até a resposta que o hospital não quer dar: "Não deve ter prontuário dele porque ele não trabalhava. De qualquer forma, nós pedimos todos os prontuários do plantão”. É mais ou menos assim que a “banda toca”.

Bem, mas para iniciar a coisa o Adão Orlando Crespo foi indiciado por estelionato, já que recebia salário sem trabalhar. Como o neurocirurgião já havia sido indiciado por omissão de socorro no inquérito da 23ª DP, ele já começa entrando em dois artigos.

Só que o Adão afirma que as suas faltas eram de pleno conhecimento do chefe de serviço, José Renato Ludolf Paixão, e de conhecimento também dos chefes de equipe. E é neste momento que Adão Crespo fala que não havia problema algum as suas faltas. Com a conivência dos “chefes”, os plantões eram lançados em sua folha de ponto, tudo numa “prática normal de irresponsabilidade”.

Resta saber se esse será mais um escândalo que irá ficar arquivado. resta saber se o Adão irá ou não continuar recebendo sem trabalhar.

Este é o Brasil, mas o Brasil que eu não gosto. 

Um comentário:

Durvalina Bernardes disse...

Quando não existe quem dê bom exemplo, o que cobrar dos subalternos?
Não existe comando, nau desgovernada.
Brasil desgovernado, povo desgraçado.
Madureira - Rio de Janeiro