quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


Jantar de adesão

Gerson Tavares








Esse negócio de “jantar de adesão” é coisa antiga, mas a grande novidade é em relação ao destino dessas “adesões”. E já que estamos falando em novidade, também foi novidade a declaração do governador de Sergipe, o petista Marcelo Déda, que mesmo mostrando solidariedade para com os companheiros de partido que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, avisou que não compareceria ao jantar de adesão que o partido do governo organizou, em Brasília, para arrecadar recursos para o pagamento das multas estabelecidas pelos ministros do Supremo.

Claro que ao saber dessa notícia eu fiquei feliz ao sentir que pelo menos um petista não estava em sintonia com essa vergonha que é a “vaquinha da vergonha” que foi bolada para pagar aquilo que os “quadrilheiros” estão devendo como parte da pena que deverão cumprir para se redimirem de seus crimes.

Mas logo depois fiquei sabendo que aquela atitude nada tinha haver com ética ou moral e sim, Déda não compareceu ao jantar porque estava indo para São Paulo dar prosseguimento a um tratamento de saúde. E foi aí que fui procurar o que mais havia dito o governador e lá estava a parte “crítica" da declaração, onde o governador avisava que vai contribuir sim com a "vaquinha" que está sendo feita pelos petistas. Só não falava quanto ele irá disponibilizar para saldar as dívidas dos “bandidos” condenados.

Disse ele que irá contribuir nos limites da sua solidariedade, com aqueles que são meus amigos. Eles foram seus “companheiros” de 20, 30 anos e que eventualmente estão condenados pelo STF. Esse “eventualmente” é pelo menos desprezível se olharmos pelo outro lado da lente. Os “bandidos mensaleiros” José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, juntos, foram condenados pelo STF a pagar multas de mais de R$ 1,5 milhão. Como Déda diz que ele é de uma geração que aprendeu a valorizar a solidariedade, solidarizar-se com um companheiro, com um amigo, que eventualmente sofreu uma condenação criminal, não significa nenhum tipo de adesão a um possível erro que foi cometido.

Só esquece o governador Déda que crime que foi cometido é que não seja em defesa da vida ou da honra, não é merecedor de solidariedade. Essa de que “amigo não tem erro e inimigo se não tiver eu coloco” é coisa de bandido.

E não venha o Déda apelar para o evangelista Matheus porque não cola. Ele apelou para a Bíblia: "Há um trecho em Mateus que precisa ser lido com mais frequência. É aquele em que o evangelista diz que Jesus relatara que no final dos tempos ele agradeceria às pessoas que o visitaram quando estava doente, que foram até a prisão quando ele estava preso. Eles dirão: 'Mas eu nunca te vi na prisão, nunca te vi doente'. Ele disse: 'aquele preso a quem foste visitar, aquele doente a quem visitaste era eu'. Isso não precisa ser religioso para entender".

E foi aí que algum “espírito de porco” chamou a atenção de Déda, lembrado que Matheus falava dos injustiçados e não de bandidos condenados, como foram os mensaleiros. Como se sentiu de encontro à parede, o governador desconversou: "Não vou abrir um debate teológico. Eu não estou abusando de generosidade".

É sempre assim: quando a corda aperta, eles usam de todas as de artimanhas para desfazer o nó. 

Um comentário:

Sílvia Verdun disse...

Pagar para salvar a pele do parceiro, até eles pagam. Até porque naturalmente este dinheiro que desembolsam nesses casos também foi roubado de algum modo, mas dar a cara e mostrar que está do lado do bandido, aí já é outro capitulo.
Belo Horizonte - MG