Jantar
de adesão
Gerson
Tavares
Esse
negócio de “jantar de adesão” é coisa antiga, mas a grande novidade é em
relação ao destino dessas “adesões”. E já que estamos falando em novidade, também foi novidade a declaração do governador de Sergipe, o
petista Marcelo Déda, que mesmo mostrando solidariedade para com os companheiros de
partido que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do
mensalão, avisou que não compareceria ao jantar de adesão que o partido do
governo organizou, em Brasília, para arrecadar recursos para o pagamento das
multas estabelecidas pelos ministros do Supremo.
Claro
que ao saber dessa notícia eu fiquei feliz ao sentir que pelo menos um petista não
estava em sintonia com essa vergonha que é a “vaquinha da vergonha” que foi
bolada para pagar aquilo que os “quadrilheiros” estão devendo como parte da
pena que deverão cumprir para se redimirem de seus crimes.
Mas
logo depois fiquei sabendo que aquela atitude nada tinha haver com ética ou
moral e sim, Déda não compareceu ao jantar porque estava indo para São Paulo
dar prosseguimento a um tratamento de saúde. E foi aí que fui procurar o que
mais havia dito o governador e lá estava a parte “crítica" da declaração,
onde o governador avisava que vai contribuir sim com a "vaquinha" que
está sendo feita pelos petistas. Só não falava quanto ele irá disponibilizar
para saldar as dívidas dos “bandidos” condenados.
Disse
ele que irá contribuir nos limites da sua solidariedade, com aqueles que são
meus amigos. Eles foram seus “companheiros” de 20, 30 anos e que eventualmente
estão condenados pelo STF. Esse “eventualmente” é pelo menos desprezível se
olharmos pelo outro lado da lente. Os “bandidos mensaleiros” José Dirceu, José
Genoino e João Paulo Cunha, juntos, foram condenados pelo STF a pagar multas de
mais de R$ 1,5 milhão. Como Déda diz que ele é de uma geração que aprendeu a valorizar
a solidariedade, solidarizar-se com um companheiro, com um amigo, que
eventualmente sofreu uma condenação criminal, não significa nenhum tipo de
adesão a um possível erro que foi cometido.
Só
esquece o governador Déda que crime que foi cometido é que não seja em defesa
da vida ou da honra, não é merecedor de solidariedade. Essa de que “amigo não
tem erro e inimigo se não tiver eu coloco” é coisa de bandido.
E
não venha o Déda apelar para o evangelista Matheus porque não cola. Ele apelou
para a Bíblia: "Há um trecho em Mateus que precisa ser lido com mais
frequência. É aquele em que o evangelista diz que Jesus relatara que no final
dos tempos ele agradeceria às pessoas que o visitaram quando estava doente, que
foram até a prisão quando ele estava preso. Eles dirão: 'Mas eu nunca te vi na
prisão, nunca te vi doente'. Ele disse: 'aquele preso a quem foste visitar,
aquele doente a quem visitaste era eu'. Isso não precisa ser religioso para
entender".
E
foi aí que algum “espírito de porco” chamou a atenção de Déda, lembrado que
Matheus falava dos injustiçados e não de bandidos condenados, como foram os mensaleiros.
Como se sentiu de encontro à parede, o governador desconversou: "Não vou
abrir um debate teológico. Eu não estou abusando de generosidade".
É
sempre assim: quando a corda aperta, eles usam de todas as de artimanhas para
desfazer o nó.
Um comentário:
Pagar para salvar a pele do parceiro, até eles pagam. Até porque naturalmente este dinheiro que desembolsam nesses casos também foi roubado de algum modo, mas dar a cara e mostrar que está do lado do bandido, aí já é outro capitulo.
Belo Horizonte - MG
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