terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Todos juntos e misturados

Gerson Tavares







Babel já era prenúncio que um dia o mundo iria tomar conhecimento da política brasileira. Só pensando assim para entender tudo que acontece em todos os partidos e em todos os seguimentos, quando a gente fica sabendo que funcionários da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo estão recolhendo assinaturas no horário de expediente para fundar o Partido Solidariedade, um nova legenda articulada nos bastidores pelo dublê de deputado federal e líder sindical, Paulo Pereira da Silva, o “famigerado” Paulinho da Força Sindical.

Paulinho é deputado do PDT e é ele que controla aquela pasta no governo Geraldo Alckmin, que é do PSDB. Foi o Paulinho que indicou para o posto de secretário o sindicalista Carlos Ortiz, o mesmo Ortiz que tratou de nomear filiados do PDT para cargos estratégicos, como chefia de gabinete, coordenadorias de programas e diretorias regionais. Só faltou colocar tabuleta na porta para avisar que “aquele setor é deles e ninguém tasca”.

Duas semanas atrás começaram a circular denúncias que servidores estariam sendo abordados pelos filiados do PDT na pasta, dentro das dependências da secretaria, para assinarem as fichas de apoio à criação do novo partido. Sem o menor respeito pelo local, o material foi distribuído pelas mesas da pasta.

Como todos sabem, para ser criado o Partido Solidariedade, eles precisam de 491 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados. Essas assinaturas vão para os Tribunais Regionais Eleitorais, analisadas pelo Ministério Público e enviadas ao Tribunal Superior Eleitoral, que concede o registro. Mas a corrida já começou porque só se o partido for criado até outubro deste ano, ele estará apto para disputar a eleição de 2014.

Uma funcionária que recebe do “Cofre Estadual” é quem está fornecendo as fichas e ela já forneceu cerca de trezentas fichas de “apoiamento” ao novo partido. Mas ela é só mais uma pessoa que a população está pagando para esse trabalho. Como as fichas foram encaminhadas à Coordenadoria de Políticas de Inserção no Mercado de Trabalho, cujo coordenador é Luciano Martins Lourenço, filiado ao PDT, é ele quem “escala o time” que deve dar respaldo ao Paulinho. No local, uma sala no 2.º andar da secretaria, as fichas estavam guardadas num armário. Os servidores pegaram as fichas, recolheram assinaturas de amigos ou familiares e as preenchem com todos os dados necessários, mas nunca esquecendo do título de eleitor.

Mas além de Lourenço, outros dois filiados do PDT recolhem assinaturas: Helder Liberato Bovo, que foi nomeado em 2012, assistente técnico do órgão e que trabalha com Lourenço na coordenadoria, e Tadeu Morais de Souza, que é o atual chefe de gabinete do secretário, formam o time que joga junto.

Claro que o uso da máquina pública para fins partidários pode configurar improbidade administrativa. Mas isso já era esperado já que ainda no ano passado o jornal “O Estado de São Paulo” revelou o loteamento de cargos na secretaria. Entre os agraciados estava o filho de Paulinho, Alexandre Pereira da Silva. Ele trabalhava no local e exercia uma função para a qual nem sequer havia sido nomeado oficialmente. Alckmin determinou que a Corregedoria-Geral da Administração abrisse um procedimento para investigar o caso. Questionado sobre a evolução da investigação, o Palácio dos Bandeirantes informou que o órgão enviou o pedido de apuração do caso para a Secretaria de Emprego. Claro que se depender da secretaria, não haverá conclusão oficial nunca.

Tudo isso acontece porque Paulinho está aborrecido com a direção do PDT e assim sendo ele resolveu criar a “patota” ao articular o Solidariedade. Mas até para isso ele quer o melhor e como existe um advogado em São Paulo, o Marcílio Duarte Lima, que é especialista em criar novas legendas, não pensou duas vezes e chamou o especialista.

Os envolvidos nessa baderna já teriam recolhido 300 mil assinaturas. Dizem contar ainda com o comprometimento de cerca de 40 deputados, muitos do PSD, fundado pelo ex-prefeito Gilberto Kassab. E como o Paulinho tem “A Força”, nesta corrida pelas assinaturas para fundar o Solidariedade acontece àquela ajuda de sindicatos ligados à Força.

Mas o mais hilário dessa bagunça, além, claro, do uso da maquina do Estado, é a declaração de Cícero Martinha, que também é do PDT, que preside o Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá: “Estamos coletando as assinaturas para dar uma ajuda para o pessoal. Se vou entrar ou não, não sei. É uma questão futura”.

E viva o Brasil da Babel! 

Um comentário:

Heraldo Campos disse...

Essa mixórdia que se tornou a política depois que o PT tomou conta do governo é hoje a grande dúvida para quem quer ordem no Brasil.
Quem manda no governo? A presidente ou os partidos? Se são os partidos, o Brasil está nas mãos do PT ou dos partidos aliados? Sabemos que todos os partidos que estão aí, 'governando' têm comandantes corruptos, mas será que não dá para o povo acordar?
Pobre Brasil. Não tem povo e está entregue a uma quadrilha.
São Paulo