segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Quem foi ele?

Gerson Tavares






Tudo poderia começar assim. Quem foi Friedenreich? E eu poderia começar falando que Arthur Friedenreich, nascido em São Paulo em 18 de julho de 1892, faleceu em seu estado natal em 6 de setembro de 1969. Poderia contar que Arthur Friedenreich foi um futebolista brasileiro que recebeu o apelido de "El Tigre" ou ainda de "Fried" e foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro na época do futebol amador, época que durou até 1933.

Ainda poderia contar que o amador Friedenreich participou da excursão do Clube Paulistano pela Europa, no distante ano de 1925. Foram disputadas dez partidas e a equipe voltou invicta.

E continuar a estória deste homem que entrou para a história do futebol no ano de 1919, quando Friedenreich teve uma importante participação no campeonato sul-americano de seleções. Este torneio, mais tarde se transformou no atualmente chamado Copa América. Foi de Friedenreich o gol da vitória contra os uruguaios na decisão e, ao lado de Neco, foi o artilheiro da competição. Após o feito, suas chuteiras ficaram em exposição na vitrine de um loja de jóias raras no Rio de Janeiro.

Friedenreich era filho de um comerciante alemão e de uma lavadeira negra brasileira. Ele nasceu no bairro da Luz, centro de São Paulo, e aprendeu a jogar bola com bexiga de boi, poucos anos depois de Charles Miller chegar ao país, em 1894, trazendo o futebol como novidade e o Brasil revelou seu primeiro ídolo.

Hoje em dia, são pouquíssimos aqueles brasileiros que viram Friedenreich brilhar nas décadas de 1910, 1920 e 1930. Ele brilhou nos clubes Germânia, o atual Pinheiros, Mackenzie, Ypiranga e o Paulistano, que hoje são apenas clubes sociais e já não atuam no futebol profissional. Arthur Friedenreich começou a se destacar pela inteligência extraordinária, pela imaginação, técnica, estilo e pela capacidade de improvisar. O apelido de "El Tigre" foi dado pelos uruguaios após a conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919, como já falei, atual Copa América.

A sua posição de origem foi a de centroavante e o "El Tigre" acabou introduzindo novas jogadas no ainda infantil "futebol brasileiro", na época, ainda amador, como o drible curto, o chute de efeito e a finta de corpo. Foi campeão paulista em diversas oportunidades pelo clube Paulistano. Também atuou pelo São Paulo Futebol Clube, conquistando mais um campeonato paulista em 1931. O time do São Paulo campeão naquele ano ficou conhecido por "Esquadrão de Aço", e era formado por Nestor; Clodô e Bartô; Mílton, Bino e Fabio; Luizinho, Siriri, Araken e Junqueirinha.

No Rio de Janeiro, Friedenreich jogou no ano de 1917 no Flamengo, mas na década de 30 ele voltou ao Rio para mais uma vez vestir a camisa do clube rubro-negro. Eu já poderia parar por aqui para mostrar o valor desse astro Friedenreich, que era considerado pelos cronistas da época um jogador inteligente dentro de campo. Mas não poderia deixar de falar que Friedenreich talvez tenha sido o jogador mais objetivo e um dos mais corajosos de sua época. Parecia conhecer todos os segredos do futebol e sabia quando e como ia marcar um gol e até hoje ele ainda é considerado um dos maiores centroavantes que o Brasil já teve. Se hoje tantos brasileiros pensam em ser considerados “o melhor do mundo”, no ano de 1925, foi Friedenreich que voltou da Europa como um dos "melhores do mundo", depois de vencer, pelo Paulistano, nove dos dez jogos disputados. Um de seus maiores feitos aconteceu em 1928, quando ele marcou sete gols numa única partida contra o União da Lapa, batendo o recorde da época.

Foi em 1912 que ele fez sua estreia na seleção brasileira. Foi um amistoso contra a seleção paulista, quando a equipe brasileira venceu por 7 a 0 com dois gols de do “El Tigre”. Da seleção ele se despediu em 1935, em um jogo contra o River Plate no dia 23 de fevereiro, no qual o Brasil ganhou por 2 a 1. Friendenreich fez pela seleção principal 23 jogos e marcou 10 gols. Já na seleção de veteranos, em 1935, disputou 2 jogos e marcou 2 gols. Em 1914 ganhou o primeiro título do Brasil na história do futebol. A Copa Roca, taça amistosa realizada para melhorar as relações diplomáticas entre Brasil e Argentina.

Friedenreich encerrou sua carreira no Flamengo, em julho de 1935, aos 43 anos de idade. Depois de abandonar os gramados, viveu na pobreza um bom tempo até morrer em 1969, em uma casa cedida pelo São Paulo.

Alguns devem estar perguntando o porquê de falar tanto em Friedenreich, mas a resposta está aqui. Dentro do complexo esportivo do Maracanã, está instalada a Escola Municipal Friedenreich. Uma das poucas homenagem prestadas àquele gênio da bola. E esta homenagem é prestada no lugar certo, porque “Friedenreich” é sinônimo de “futebol brasileiro”.

Pois bem. E não é que em nome da Copa do Mundo de 2014, o governo municipal, aliás, um governo que se confunde com o estadual, já que ninguém sabe quem manda num ou em outro, mas esse governo do município do Rio de Janeiro resolveu que para modernizar o complexo do Maracanã a Escola Municipal Friedenreich será demolida?

Como se não bastasse o crime por falta de respeito pelo primeiro e maior craque brasileiro do futebol, vem o desrespeito para com as crianças que ali estudam. Uma aluna de 11 anos, a Beatriz Ehlers, está indignada com aquilo que o grande “mandatário” municipal, quer fazer com a Escola Municipal Friedenreich. Diz Beatriz: “Aprendi tudo aqui. Lá os alunos respeitam os professores. Somos uma família”. Mas será que o governante sabe o que vem ser uma família? Será que ele vê esse lado humano das escolas?

E se esse apelo de uma criança de 11 anos não serve para mexer com a sensibilidade de Eduardo Paes, gostaria pelo menos que esse senhor visse o nível de escola que ele quer exterminar da face da terra. A Escola Municipal Friedenreich, com nota7,6 no IDEB em 2011, ultrapassa a meta para 2021, que está prevista para 7,2. Esta é uma unidade modelo de inclusão. 

Mas o Eduardo Paes, na sua sanha de aparecer com as obras para a Copa de 14 e as Olimpíadas de 16, ele é capaz até de derrubar o Cristo Redentor.

Mas pais daqueles alunos já estão se movimentando e acho que chegou a hora de movimentarmos a cidade, o estado, o país. As crianças desse Brasil merecem respeito.

Isso sem falar no primeiro grande nome do esporte bretão, Arthur Friedenreich.

Abaixo Eduardo Paes. Afinal, além de mamar nas tetas do governo, o que mais fez?

3 comentários:

Carlos Goís Monteiro disse...

Como é bom encontrar quem conheceu o bom futebol. Coisa bem mais sem graça o futebol de hoje, quando qualquer um é craque.

Quanto ao prefeito botar abaixo uma escola já é um crime e ainda mais onde esta escola é localizada e o nome que tem.
Quem Nasce para Eduardo Paes, nunca vai chegar a Arthur Friedenreich.
Tijuca - Rio de Janeiro

Fernando Gomes disse...

Falou e disse. É isso aí porque ser prefeito não é governar para inglês ver e sim para educar as crianças da sua cidade, seu Eduardo Paes.
Derrubar escola é o pior exemplo que você está querendo dar ao jovem brasileiro. Já não basta ter tido um presidente analfabeto?
Tome vergonha e deixe a Escola Friedenreich no lugar que está e com o seu aproveitamento fora de série.
Grajaú Rio

Gustavo Figueira Dantas disse...

É isso aí, Gerson. Diz para ele quem é quem nesse Rio de Janeiro. =Se eles não conhecem os homenageados é só perguntar que sempre tem alguém que sabe.
Mas derrubar por derrubar, o Paes é rei em tombamento, desde que seja botar no chão. Não vê o velho Maracanã?
E o Estádio Mario Filho, vai ser construído onde?
Laranjeiras - Rio