De réu a acusador

Gerson Tavares

Poucas horas separaram Demóstenes Torres de réu no Senado, vendo seu mandato ir pelo ralo, e passar a homem forte no Ministério Público em Goiás. Tudo aconteceu em menos de um dia, precisando apenas de uma noite no meio para que ele trocasse de gabinete, largando aquele nefasto Senado e voltasse à frente da 27ª Procuradoria do MPG.

Mesmo antes da chegada de Demóstenes ao MP, ainda pela manhã da quinta-feira, já estava lá, diante da porta da 27ª Procuradoria o nome do “novo” procurador: “Demóstenes Torres”. 

E assim Demóstenes passou de investigado à investigador ao reassumir o cargo de procurador no MP de Goiás, de onde estava afastado desde 2007. No inicio da tarde de quinta-feira, menos de 24 horas depois de declarado cassado, ele se apresentou pessoalmente no prédio do Ministério Público de Goiás e tratou logo de protocolar o “comunicado de exercício”, depois de 13 anos de distanciamento. Mas ele não deixou por menos e já está usando dos “direitos” e só deverá voltar no final dessa semana ou principio da próxima. Ele solicitou um abono funcional, já que estará fazendo a sua mudança de Brasília para Goiânia. Quer dizer, mudança em termos porque ele nunca deixou Goiânia, onde ele sempre encontrava com o Cachoeira para fazer as suas negociatas. Mas como reza essa facilidade na lei, que ele goze, mas não roube.

Claro que a imprensa tem o seu papel de mostrar aquilo que está acontecendo e assim as coisas erradas viram manchetes e foi então quem alguém lá do MP de Goiás viu a “cagada’ que estavam fazendo, colocando assim, de supetão, o “safardana” para trabalhar. Foi então que resolveram dar uma satisfação à opinião pública e a Corregedoria pensou em abrir um processo disciploinar para apurar a conduta do Demóstenes. Mas depois de achar que o "passo da tropa" estava sendo acertado, vejo lá nas entrelinhas que a Corregedoria só dará o veredito dentro de 120 dias, um tempo que poderá fazer com que outro escândalo tome o lugar nas manchetes e assim o Demóstenes acaba ficando por lá, vendendo tranquilamente os seus pareceres.

O Demóstenes teve alguns votos a seu favor naquela sessão de cassação, mas depois que ele “dançou” já tem senador fazendo piada com o “safardana”. Como temos certeza de alguns nomes que realmente mandaram Demóstenes “pastar” em outra freguesia, vou citar alguns nomes aqui que são engajados na cassação desde há primeira hora. O senador Álvaro Dias, do PSDB/PR foi na ferida: “Esse é o jus esperneand” para dizer que o “peruqueiro” está no “direito de espernear”.

Já o Randolfe Rodrigues, do PSOL/AP falou que se o STF tomar decisão em favor de Demóstenes será uma interferência de um Poder sobre o outro, mas disse que não acredita e nem pode acreditar que isso venha a acontecer.          

Outros ainda andaram dando suas opiniões, mas muito pouco eles acrescentaram. Entre eles está o líder petista, senador baiano Walter Batista, que disse “que àquela altura do campeonato, água-benta e presunção, cada um toma na quantidade que quer”, falando sobre o “discurso” do advogado de Demóstenes. 

Outros ainda falaram, mas na verdade o Demóstenes Torres deve agora estar se sentindo bem melhor que antes. Até porque ser senador, depois desse escândalo todo, não seria mais lucrativo, porque ninguém iria mais confiar em fazer “negociatas” com ele e então, ele deve estar pensando assim: “Quem sabe se “vendendo” alguns pareceres lá no MP eu não possa fatura até mais e sem tantos olhos para me fiscalizar?”.

Este deverá ser o Demóstenes que ainda está por vir.