terça-feira, 22 de maio de 2012


Comissão Verdade?
Gerson Tavares
 



A presidente Dilma Rousseff instalou na quarta-feira passada, quase seis meses depois de sancionar a lei, a “Comissão da Verdade”. Em um discurso emocionado, com direito a derrame de lágrimas, Dilma falou que garantirá toda a liberdade e apoio aos membros do colegiado e, em companhia dos ex-presidentes de após período militar, fez questão de mencionar que foi fundamental para chegar a este ponto, a ajuda de todos os governos que a antecederam. Lá estavam participando da cerimônia, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor.

Realmente dois que ali estavam não tiveram como presidentes que “foram”, grande papel naquele momento. Afinal eles foram aquilo que não foram, um por entrar no lugar do presidente eleito e o outro pela saída do cargo sem nenhuma honra e ainda como corrupto.
  
E no discurso, a Dilma não deixou de lado a frase decorada por todos os membros da comissão e, lógico, um discurso que foi montado para “decoreba”: “Não nos move o revanchismo, o ódio nem o desejo de reescrever a história. Mas mostrar o que aconteceu, sem camuflagem, sem vetos. Por isso, muito me alegra estar acompanhada por todos os presidentes que me antecederam”. Foi assim que a Dilma conseguiu puxar as palmas da claque que estava bem treinada.

E foi ai que, com voz embargada e chorando, a presidente encerrou seu discurso destacando qual será o papel da comissão: “A força pode esconder a verdade, mas o tempo acaba por trazer a luz". Não sei, mas a Dilma estava num momento em que, assim como Lula já fez certa vez, se equiparando a Deus. “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita”. E desta vez é a comissão da Dilma que vai “fazer a luz”.  

E por aí a Dilma foi dissertando tudo que é sabido, mas que em muitos pontos para ser história precisaríamos colocar os dois lados da questão em confrontação, porque de outro modo vira mesmo uma estória. Quando ela falou que a desinformação não ajuda a apaziguar, que o Brasil merece a verdade, que as novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia, ela deve procurar ver se do outro lado também não tem gente com as mesmas dúvidas, com os mesmos sofrimentos e querendo também saber das verdades.

Mas Dilma sabe que como tudo que começa nesse governo petista acaba em pizza, e mostrando que ela não espera “os louros da vitória” pelo trabalho da comissão, pelo sim pelo não, se a coisa não der certo, ela já mostrou que quer dividir com os outros mais uma derrota. A presidente falou que a criação do grupo que estudou a instalação da “Comissão da Verdade” (?) foi feita no governo de Fernando Henrique e se der errado é culpa dele. Dilma citou ainda que foram abertos os arquivos do Dops de São Paulo e do Rio de Janeiro, no governo Fernando Collor. Assim ela deixou bem claro que foi o “senador maluquinho” que começou a escancarar. Mas quando chegou ao Sarney, ela não teve como citar coisa alguma. Mas mesmo assim, ela foi procurar nos alfarrábios e conseguiu mencioná-lo mais adiante, por “seu importante papel” na transição da ditadura a democracia, como se fosse ele, a pessoa que “havia resolvido o problema”. Neste caso Dilma se esqueceu de falar do João Figueiredo que abriu o País aos que até ali, eram simples “cassados”. Mas como tudo foi muito bem armado e ensaiado com a claque, Lula foi o mais aplaudido quando citado.

E daí para frente foi tudo homenagem, mas o mais importante era a relação dos nomes que irão sentar para decidir “quem é quem” nesse processo de tentativa de desmoralização das Forças Armadas.  

E então foram anunciados os sete membros da comissão: Rosa Maria Cardoso da Cunha, esta que foi a advogada de Dilma durante a ditadura. Rosa Maria é uma das entusiastas para que nunca sejam investigados aqueles que se diziam naquela época, guerrilheiros, porque senão a Dilma vai dar trabalho de novo. Depois vieram José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Claudio Fonteles, ex-procurador-geral da República, Paulo Sérgio Pinheiro, um advogado que é ex-secretário de Direitos Humanos, Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora e José Paulo Cavalcanti Filho, advogado e escritor.

Esta comissão terá prazo de dois anos para funcionar, após sua instalação. E aí é que vem o melhor para eles, já que cada integrante da comissão receberá salário de R$ 11,2 mil e ainda terão uma assessoria com 14 servidores, também remunerados.

Caberá a esta comissão esclarecer os casos de tortura, morte, desaparecimento e ocultação de cadáveres, identificando e tornando públicas as estruturas, locais, instituições e circunstâncias relacionadas aos crimes contra os direitos humanos que tenham sido feitos pelos militares.

Mas os crimes dos guerrilheiros, que também passam pelas esferas da tortura, da morte, de sequestro, de assaltos e outras barbaridades mais, esses deverão permanecer no esquecimento.

A Dilma sabe que se mexer desse lado, muita coisa pode sobrar para ela.

E é ai que que sempre digo: "Quem tem, tem medo".



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