Comissão Verdade?
Gerson Tavares
A presidente Dilma Rousseff instalou na
quarta-feira passada, quase seis meses depois de sancionar a lei, a “Comissão
da Verdade”. Em um discurso emocionado, com direito a derrame de lágrimas,
Dilma falou que garantirá toda a liberdade e apoio aos membros do colegiado e,
em companhia dos ex-presidentes de após período militar, fez questão de
mencionar que foi fundamental para chegar a este ponto, a ajuda de todos os
governos que a antecederam. Lá estavam participando da cerimônia, Fernando
Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, José Sarney e Fernando Collor.
Realmente dois que ali estavam não tiveram
como presidentes que “foram”, grande papel naquele momento. Afinal eles foram
aquilo que não foram, um por entrar no lugar do presidente eleito e o outro
pela saída do cargo sem nenhuma honra e ainda como corrupto.
E no discurso, a Dilma não deixou de lado a
frase decorada por todos os membros da comissão e, lógico, um discurso que foi
montado para “decoreba”: “Não nos move o revanchismo, o ódio nem o desejo de
reescrever a história. Mas mostrar o que aconteceu, sem camuflagem, sem vetos.
Por isso, muito me alegra estar acompanhada por todos os presidentes que me
antecederam”. Foi assim que a Dilma conseguiu puxar as palmas da claque que
estava bem treinada.
E foi ai que, com voz embargada e chorando,
a presidente encerrou seu discurso destacando qual será o papel da comissão: “A
força pode esconder a verdade, mas o tempo acaba por trazer a luz". Não
sei, mas a Dilma estava num momento em que, assim como Lula já fez certa vez,
se equiparando a Deus. “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita”. E desta
vez é a comissão da Dilma que vai “fazer a luz”.
E por aí a Dilma foi dissertando tudo que é
sabido, mas que em muitos pontos para ser história precisaríamos colocar os
dois lados da questão em confrontação, porque de outro modo vira mesmo uma
estória. Quando ela falou que a desinformação não ajuda a apaziguar, que o
Brasil merece a verdade, que as novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo,
merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que
continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia, ela deve
procurar ver se do outro lado também não tem gente com as mesmas dúvidas, com
os mesmos sofrimentos e querendo também saber das verdades.
Mas Dilma sabe que como tudo que começa
nesse governo petista acaba em pizza, e mostrando que ela não espera “os louros
da vitória” pelo trabalho da comissão, pelo sim pelo não, se a coisa não der
certo, ela já mostrou que quer dividir com os outros mais uma derrota. A
presidente falou que a criação do grupo que estudou a instalação da “Comissão
da Verdade” (?) foi feita no governo de Fernando Henrique e se der errado é
culpa dele. Dilma citou ainda que foram abertos os arquivos do Dops de São
Paulo e do Rio de Janeiro, no governo Fernando Collor. Assim ela deixou bem
claro que foi o “senador maluquinho” que começou a escancarar. Mas quando
chegou ao Sarney, ela não teve como citar coisa alguma. Mas mesmo assim, ela foi
procurar nos alfarrábios e conseguiu mencioná-lo mais adiante, por “seu
importante papel” na transição da ditadura a democracia, como se fosse ele, a
pessoa que “havia resolvido o problema”. Neste caso Dilma se esqueceu de falar
do João Figueiredo que abriu o País aos que até ali, eram simples “cassados”. Mas
como tudo foi muito bem armado e ensaiado com a claque, Lula foi o mais
aplaudido quando citado.
E daí para frente foi tudo homenagem, mas o
mais importante era a relação dos nomes que irão sentar para decidir “quem é
quem” nesse processo de tentativa de desmoralização das Forças Armadas.
E então foram anunciados os sete membros da
comissão: Rosa Maria Cardoso da Cunha, esta que foi a advogada de Dilma durante
a ditadura. Rosa Maria é uma das entusiastas para que nunca sejam investigados
aqueles que se diziam naquela época, guerrilheiros, porque senão a Dilma vai
dar trabalho de novo. Depois vieram José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça,
Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Claudio Fonteles,
ex-procurador-geral da República, Paulo Sérgio Pinheiro, um advogado que é
ex-secretário de Direitos Humanos, Maria Rita Kehl, psicanalista e escritora e
José Paulo Cavalcanti Filho, advogado e escritor.
Esta comissão terá prazo de dois anos para
funcionar, após sua instalação. E aí é que vem o melhor para eles, já que cada
integrante da comissão receberá salário de R$ 11,2 mil e ainda terão uma
assessoria com 14 servidores, também remunerados.
Caberá a esta comissão esclarecer os casos
de tortura, morte, desaparecimento e ocultação de cadáveres, identificando e
tornando públicas as estruturas, locais, instituições e circunstâncias
relacionadas aos crimes contra os direitos humanos que tenham sido feitos pelos
militares.
Mas os crimes dos guerrilheiros, que também
passam pelas esferas da tortura, da morte, de sequestro, de assaltos e outras barbaridades mais, esses
deverão permanecer no esquecimento.
A Dilma sabe que se mexer desse lado, muita
coisa pode sobrar para ela.
E é ai que que sempre digo: "Quem tem, tem medo".
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