JOAQUIM SABE COM QUEM
ESTÁ LIDANDO
Gerson Tavares
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, não é criança e não esta na presidência do
STF para brincar de justiceiro. Por isso ele rejeitou um pedido do ex-ministro
José Dirceu para trabalhar fora do complexo penitenciário da Papuda, em
Brasília. Segundo Barbosa, Dirceu somente terá eventualmente o direito ao
benefício depois de ter cumprido pelo menos um sexto da pena de 7 anos e 11
meses de prisão no regime semiaberto por envolvimento no “mensalão”, até porque
ele é um bandido como outro qualquer. E neste caso, o petista só poderá
requerer trabalho externo em março de 2015.
Esse prazo até poderá
ser encurtado porque o ex-ministro terá o direito de descontar os dias de
trabalho no presídio, mas como para tal se faz necessário que não haja falta
grave, eu não vejo possibilidade do "laranja" do Lula encurtar nem um minuto. Mas como “advogado
de bandido, bandido é”, a defesa de Dirceu irá recorrer ao plenário do Supremo,
que é integrado por Barbosa e outros 10 ministros, sendo que os petistas contam
como certos os seis votos que já são “comprados”.
Além de argumentar na
decisão o fato de Dirceu não ter cumprido o mínimo da pena que é exigido pela
legislação, o presidente da Corte fez críticas à proposta de emprego
encaminhada pelo ex-ministro, que é trabalhar na biblioteca do escritório do
advogado criminalista José Gerardo Grossi, em Brasília.
E completa Barbosa: “No
caso sob exame, além do mais, é lícito vislumbrar na oferta de trabalho em
causa uma mera action de complaisance entre copains (um arranjo entre amigos),
absolutamente incompatível com a execução de uma sentença penal”.
Barbosa observou que no
Brasil os escritórios de advocacia têm em princípio o direito à
inviolabilidade, o que não se harmoniza com o exercício pelo Estado da
fiscalização do cumprimento da pena. “É de se indagar: o direito de punir
indivíduos definitivamente condenados pela prática de crimes, que é uma
prerrogativa típica do Estado, compatibiliza-se com esse inaceitável trade off
(troca de favores) entre proprietários de escritórios de advocacia criminal?
Harmoniza-se tudo isso com o interesse público, com o direito da sociedade de
ver os condenados cumprirem regularmente as penas que lhes foram impostas?”.
Esta observação de Joaquim Barbosa é fácil de notar, já que um dos principais
clientes do escritório de Grossi é um ex-chefe do Dirceu.
No seu despacho, Joaquim
Barbosa diz ainda: “O exercício da advocacia é atividade nobre, revestida de
inúmeras prerrogativas. Não se presta a arranjos visivelmente voltados a
contornar a necessidade e o dever de observância estrita das leis e das
decisões da Justiça”. Além disso, Barbosa afirmou que, por ser advogado, o
autor da proposta de emprego não permanece no interior do escritório durante
todo o período de trabalho que deverá ser executado por Dirceu, o que também
inviabiliza a fiscalização do cumprimento das regras. O presidente do STF
ressaltou que Dirceu já vem executando uma atividade similar no complexo
penitenciário da Papuda.
E já que era para
mostrar os erros que estão acontecendo com a prisão de Dirceu, no despacho, o
presidente do STF citou a suspeita de que José Dirceu teria falado ao celular
na prisão. Ele disse que informantes não identificados teriam fornecido dados
concretos que, em princípio, poderiam ser investigados, como as datas das
ligações e os interlocutores com os quais o ex-ministro teria falado. Essa
suspeita ainda será analisada por Barbosa.
Chega de roubar.
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