'DIÁLOGO' NÃO CONTAMINA DECISÕES
Gerson Tavares
Ao ouvir a
afirmação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot que sempre recebeu a
todos em seu gabinete, vi que ele é daqueles que não colocam secretárias para
rechaçar as pessoas que trazem dores de cabeça, mas ressalvou que nenhum "diálogo"
contamina suas decisões como chefe do Ministério Público. Se isso é verdade, Janot
faz parte de uma minoria entre aqueles que estão com poderes de “quase” decidir
o futuro de um País tão mal governado.
Janot deu essa
declaração depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, membro do PMDB do
Rio de Janeiro, acusa-lo de "aparelhar" a Procuradoria-Geral da
República e ceder a "jogo político" na definição da lista de
autoridades que serão investigadas na Operação Lava Jato e que tem entre tantos “safardanas”
o próprio Eduardo Cunha. E Janot, para mostrar que não é desses, falou que
"não se pode confundir investigação com condenação". Claro que ele
falou isso porque, se ele liberou a relação dos nomes daqueles que estão envolvidos com os
roubos na Petrobras, ele não estava ali condenando e sim, falando que os “safardanas”
estão envolvidos com a “quadrilha” que deu tantos golpes aos cofres da República.
Eu entendo que com o Eduardo se doendo tanto, essa “defesa” é quase uma
confissão de culpa.
Antes da entrega
ao Supremo dos pedidos de abertura de inquérito, Janot teve reuniões com o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e com o vice-presidente da
República, Michel Temer. O ministro Cardozo negou que o governo tenha exercido
qualquer interferência nas investigações do Ministério Público. E para
completar o medo do Eduardo, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal
Federal autorizou, a pedido de Janot, a abertura de inquérito para investigar
49 pessoas. Dentre essas, 47 são políticos e um deles é exatamente o Eduardo Cunha.
E o procurador
deixou clara a sua posição: "Acredito piamente que com diálogo se
constrói. As portas do meu gabinete sempre estiveram abertas. Nunca deixei de
receber quem quer que seja para assuntos institucionais e assuntos
profissionais. Isso não quer dizer que o diálogo possa contaminar minhas
decisões. As decisões são tomadas com a responsabilidade que o cargo me
impõe". E completou para que o Eduardo veja que já está escorregando para
a lama: "Se as portas do meu gabinete sempre estiverem abertas para quem
quer que seja, as portas da minha consciência só estão abertas para as leis que
jurei cumprir".
Se isso é uma realidade, já vi que o
Janot poderá entrar para o time dos que foram nomeados por erro. Não era isso
que o governo esperava dele.
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