GESTÃO
DE PAES ESTÁ COM
'AS COISAS FORA DO NORMAL'
Depois
de quatro anos pulando, desfilando em escola de Samba, saracoteando pelas
“bandas” da vida, pela primeira vez em cinco anos de governo, o prefeito
Eduardo Paes, do PMDB, não encarnou o papel de folião exultante e saltitante no desfile do
sambódromo. Claro que o “fogo no rabo” que ele tem não deixou que o alcaide não descesse
à pista do “Sambódromo” para prestigiar as escolas de samba e assim sendo ele
desceu à pista, no recuo da bateria, brincou com integrantes de algumas alas,
mas diferentemente dos outros anos, de forma discreta e sem qualquer declaração
pública.
Dizem
algum que ele assim agiu porque, como qualquer ser, “ele também e tem medo”.
Dizem que essa cautela aconteceu exatamente depois da onda de manifestações no
País, com mais intensidade no Rio de Janeiro. E como já estava decidida por
todos os seus parceiros, ela ainda foi reforçada pelo fato de que o prefeito
enfrenta um dos momentos mais turbulentos de sua gestão.
Depois
da “merda” que ele e sua equipe arrumaram na cidade com o caos provocado pelas
mudanças no trânsito do centro duas semanas antes do feriado, a greve de garis
transformou a cidade em um mar de lixo e mau cheiro. Além disso, vários bairros
sofrem os transtornos das obras que têm de ser concluídas até os Jogos
Olímpicos de 2016. Enfim, Paes só faz “merda” pelo caminho que passa.
O
cientista político Jairo Nicolau fala que Paes só está fazendo essa confusão
toda na cidade porque não é período eleitoral para a municipalidade. Diz que
ele só se deu ao luxo de fazer “merda” porque tem o calendário a seu favor. Se
fosse ano eleitoral para ele, talvez não fizesse o que está fazendo. E falou
que existe de fato uma sensação de que as coisas estão fora do normal. “Já no
réveillon ficaram evidentes as dificuldades de transporte, as filas enormes
para os banheiros, problemas na segurança. A demolição do viaduto da Perimetral
é uma medida nada comum. Houve as mudanças no trânsito, muitas obras
simultâneas. Não havia como prever a greve dos garis, mas houve um momento em
que juntou tudo. Isso é cíclico. O prefeito pode se preparar para perder
avaliação positiva, mas, com o tempo, as coisas voltam ao normal". E eu pergunto: "Será que o carioca merece isto?".
E
o Paes não tem limites mesmo, por isso, durante o Carnaval, ele determinou a
demissão de 300 grevistas, mas, na Quarta-Feira de Cinzas, anunciou que
voltaria atrás, por sugestão da Defensoria Pública. Para completar o desgaste,
um vídeo em que o Paes atira restos de fruta, durante um encontro político na
zona oeste, foi divulgado na internet, na última quinta-feira. Foi então que o
prefeito, que há seis meses programou a Lei do Lixo Zero, com multas pesadas
para quem sujar a cidade, resolveu aplicar a punição em si mesmo. Só que ele jogou
várias vezes pedaços da fruta no chão e só pagou uma multa. Ele esqueceu que
ele foi reincidente e assim deveria estar pagando, a cada vez que repetiu o
ato, a uma multa mais pesada.
Muitas
outras coisas aconteceram e Eduardo Paes virou alvo para todos os noticiários
do mundo. No dia 28 de fevereiro, uma reportagem do New York Times disse que
Paes estava sob estresse intenso por ter de cuidar de dois grandes eventos - a
Copa e a Olimpíada - em tão curto espaço de tempo. A reportagem citou casos de
acessos de raiva do prefeito, que teria jogado um cinzeiro e um grampeador em
dois assessores e xingado uma vereadora de "vagabunda". Os fatos são
antigos e foram revelados em reportagem da revista Época em junho de 2013. Dois
amigos de Paes e secretários municipais, Pedro Paulo e Alex Costa, contaram terem
sido atingidos por objetos arremessados pelo prefeito, mas que ele não faria aquilo "por mal". A pessoa xingada foi ex-vereadora Andrea Gouvea Vieira, em
2006, antes de Paes se tornar prefeito, por causa de desavenças no segundo
turno da eleição estadual, quando os dois eram do PSDB.
O
jornal americano também lembrou o episódio em que, em maio de 2013, Eduardo
Paes deu um soco em um eleitor que o hostilizou, em um restaurante japonês. O
prefeito faz o estilo de não levar desaforo para casa. Já ligou para um
programa ao vivo da Globonews para contestar comentários sobre fiscalização na
via expressa Linha Amarela e mandou parar o carro oficial na região central da
cidade para responder a uma eleitora que o criticara.
E
Jairo Nicolau analisa: "Ele tem essa características, que às vezes
atrapalha, gosta do confronto, da retórica, pode passar imagem de arrogância.
Mas o governador Cabral peca pelo outro lado, de muito bonachão. Os políticos
volta e meia são testados nas emoções". Voltado para a administração, Paes
tem evitado entrar na briga entre o PMDB e o PT do Rio, mantém a aliança com os
petistas e já prometeu apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. "A
Olimpíada será um grande teste para o prefeito. Se der certo, ele sai com um
capital político importante", afirma o cientista político.
Mas
será que ele resiste ao caos do Rio? Espero que não.
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