terça-feira, 18 de março de 2014

Sem limites para aparecer.



GESTÃO DE PAES ESTÁ COM
'AS COISAS FORA DO NORMAL'








Depois de quatro anos pulando, desfilando em escola de Samba, saracoteando pelas “bandas” da vida, pela primeira vez em cinco anos de governo, o prefeito Eduardo Paes, do PMDB, não encarnou o papel de folião exultante e saltitante no desfile do sambódromo. Claro que o “fogo no rabo” que ele tem não deixou que o alcaide não descesse à pista do “Sambódromo” para prestigiar as escolas de samba e assim sendo ele desceu à pista, no recuo da bateria, brincou com integrantes de algumas alas, mas diferentemente dos outros anos, de forma discreta e sem qualquer declaração pública.

Dizem algum que ele assim agiu porque, como qualquer ser, “ele também e tem medo”. Dizem que essa cautela aconteceu exatamente depois da onda de manifestações no País, com mais intensidade no Rio de Janeiro. E como já estava decidida por todos os seus parceiros, ela ainda foi reforçada pelo fato de que o prefeito enfrenta um dos momentos mais turbulentos de sua gestão.

Depois da “merda” que ele e sua equipe arrumaram na cidade com o caos provocado pelas mudanças no trânsito do centro duas semanas antes do feriado, a greve de garis transformou a cidade em um mar de lixo e mau cheiro. Além disso, vários bairros sofrem os transtornos das obras que têm de ser concluídas até os Jogos Olímpicos de 2016. Enfim, Paes só faz “merda” pelo caminho que passa.

O cientista político Jairo Nicolau fala que Paes só está fazendo essa confusão toda na cidade porque não é período eleitoral para a municipalidade. Diz que ele só se deu ao luxo de fazer “merda” porque tem o calendário a seu favor. Se fosse ano eleitoral para ele, talvez não fizesse o que está fazendo. E falou que existe de fato uma sensação de que as coisas estão fora do normal. “Já no réveillon ficaram evidentes as dificuldades de transporte, as filas enormes para os banheiros, problemas na segurança. A demolição do viaduto da Perimetral é uma medida nada comum. Houve as mudanças no trânsito, muitas obras simultâneas. Não havia como prever a greve dos garis, mas houve um momento em que juntou tudo. Isso é cíclico. O prefeito pode se preparar para perder avaliação positiva, mas, com o tempo, as coisas voltam ao normal". E eu pergunto: "Será que o carioca merece isto?".

E o Paes não tem limites mesmo, por isso, durante o Carnaval, ele determinou a demissão de 300 grevistas, mas, na Quarta-Feira de Cinzas, anunciou que voltaria atrás, por sugestão da Defensoria Pública. Para completar o desgaste, um vídeo em que o Paes atira restos de fruta, durante um encontro político na zona oeste, foi divulgado na internet, na última quinta-feira. Foi então que o prefeito, que há seis meses programou a Lei do Lixo Zero, com multas pesadas para quem sujar a cidade, resolveu aplicar a punição em si mesmo. Só que ele jogou várias vezes pedaços da fruta no chão e só pagou uma multa. Ele esqueceu que ele foi reincidente e assim deveria estar pagando, a cada vez que repetiu o ato, a uma multa mais pesada.

Muitas outras coisas aconteceram e Eduardo Paes virou alvo para todos os noticiários do mundo. No dia 28 de fevereiro, uma reportagem do New York Times disse que Paes estava sob estresse intenso por ter de cuidar de dois grandes eventos - a Copa e a Olimpíada - em tão curto espaço de tempo. A reportagem citou casos de acessos de raiva do prefeito, que teria jogado um cinzeiro e um grampeador em dois assessores e xingado uma vereadora de "vagabunda". Os fatos são antigos e foram revelados em reportagem da revista Época em junho de 2013. Dois amigos de Paes e secretários municipais, Pedro Paulo e Alex Costa, contaram terem sido atingidos por objetos arremessados pelo prefeito, mas que ele não faria aquilo "por mal". A pessoa xingada foi ex-vereadora Andrea Gouvea Vieira, em 2006, antes de Paes se tornar prefeito, por causa de desavenças no segundo turno da eleição estadual, quando os dois eram do PSDB.

O jornal americano também lembrou o episódio em que, em maio de 2013, Eduardo Paes deu um soco em um eleitor que o hostilizou, em um restaurante japonês. O prefeito faz o estilo de não levar desaforo para casa. Já ligou para um programa ao vivo da Globonews para contestar comentários sobre fiscalização na via expressa Linha Amarela e mandou parar o carro oficial na região central da cidade para responder a uma eleitora que o criticara.

E Jairo Nicolau analisa: "Ele tem essa características, que às vezes atrapalha, gosta do confronto, da retórica, pode passar imagem de arrogância. Mas o governador Cabral peca pelo outro lado, de muito bonachão. Os políticos volta e meia são testados nas emoções". Voltado para a administração, Paes tem evitado entrar na briga entre o PMDB e o PT do Rio, mantém a aliança com os petistas e já prometeu apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff. "A Olimpíada será um grande teste para o prefeito. Se der certo, ele sai com um capital político importante", afirma o cientista político.


Mas será que ele resiste ao caos do Rio? Espero que não.

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