O "NEGÃO"
Gerson Tavares
Quando Pelé começa a
falar, vem logo a frase do Romário: “Pelé é um poeta quando calado”. Mas
desta vez Pelé foi feliz ao falar que as ofensas racistas de torcedores no
futebol têm que ser contidas, mas sem o estardalhaço que levou o caso Aranha
para as manchetes pelo mundo.
Falou Edson Arantes: "Eu
acho que tem que coibir, mas tem que saber até que nível. Porque são explosões
naturais, que não vai dar para mudar. Se fosse assim, o time brasileiro não
podia jogar na América Latina porque a gente ia ter que parar todos os jogos”.
E completou seu pensamento de um modo bem explicativo: "Se uma pessoa
chamar de japonês, ou de alemão, é a mesma coisa".
Essa colocação é
perfeita, porque o racismo não é só contra negro e sim contra qualquer um que é
apontado como exemplo pejorativo. Ele lembra que o racismo no futebol sempre
existiu, mas que hoje está em evidência no Brasil, só porque integrantes da
torcida do Grêmio chamaram o goleiro Aranha, do Santos, de "macaco" e
emitiram sons imitando o animal. Aranha reclamou com o árbitro e se mostrou
indignado após o jogo. Mas já pensaram se o Pelé, que também sofreu racismo
quando jogava futebol, se indignasse toda vez que fosse chamado de “negão”?
Então Pelé mostra em
detalhes tudo que ouviu e viu acontecer durante sua carreira: "Eu não
quero criticar o Aranha, porque é uma excelente pessoa, um amigão meu, é calmo,
é puro, mas foi pego de surpresa. Se ele fizesse a mesma coisa que o Daniel
Alves fez, quando jogaram uma banana lá na Europa para ele e comeu, você viu
que ninguém falou mais nada". Pelé acredita que a reação do goleiro Aranha
contribuiu para "toda essa promoção para quem tem esse tipo de
racismo".
E Pelé, um ídolo que
foi tricampeão mundial com a seleção brasileira, disse ainda que quando era
jogador foi vítima de racismo por diversas vezes. E lembra: "Na minha
época, em todo lugar que a gente jogava na América Latina, Argentina, Uruguai,
Paraguai, me chamavam de negro, de macaco, de tudo. A explosão do torcedor, até
aqui mesmo quando a gente ia jogar no interior, eles xingavam e não era só eu. Xingavam
a gente de todo nome. Eu acho, é claro, que tem que coibir, é uma coisa de
racismo e, infelizmente, o racismo não é só contra o negro, é contra o japonês,
contra o pobre. Tem que coibir. Mas eu acho que as coisas têm que ser levadas
de modo diferente".
E assim Pelé mostrou
que tem momentos que ele pode ser poeta mesmo falando. O “Negão” mostrou que
muitas vezes o racismo serve para aproveitamento político. Quando entra
política, tudo pode ser aproveitado para campanha.
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