quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Pelé discorda de postura de Aranha diante de atos racistas.


O "NEGÃO"

Gerson Tavares
 





Quando Pelé começa a falar, vem logo a frase do Romário: “Pelé é um poeta quando calado”. Mas desta vez Pelé foi feliz ao falar que as ofensas racistas de torcedores no futebol têm que ser contidas, mas sem o estardalhaço que levou o caso Aranha para as manchetes pelo mundo.

Falou Edson Arantes: "Eu acho que tem que coibir, mas tem que saber até que nível. Porque são explosões naturais, que não vai dar para mudar. Se fosse assim, o time brasileiro não podia jogar na América Latina porque a gente ia ter que parar todos os jogos”. E completou seu pensamento de um modo bem explicativo: "Se uma pessoa chamar de japonês, ou de alemão, é a mesma coisa".

Essa colocação é perfeita, porque o racismo não é só contra negro e sim contra qualquer um que é apontado como exemplo pejorativo. Ele lembra que o racismo no futebol sempre existiu, mas que hoje está em evidência no Brasil, só porque integrantes da torcida do Grêmio chamaram o goleiro Aranha, do Santos, de "macaco" e emitiram sons imitando o animal. Aranha reclamou com o árbitro e se mostrou indignado após o jogo. Mas já pensaram se o Pelé, que também sofreu racismo quando jogava futebol, se indignasse toda vez que fosse chamado de “negão”?
Então Pelé mostra em detalhes tudo que ouviu e viu acontecer durante sua carreira: "Eu não quero criticar o Aranha, porque é uma excelente pessoa, um amigão meu, é calmo, é puro, mas foi pego de surpresa. Se ele fizesse a mesma coisa que o Daniel Alves fez, quando jogaram uma banana lá na Europa para ele e comeu, você viu que ninguém falou mais nada". Pelé acredita que a reação do goleiro Aranha contribuiu para "toda essa promoção para quem tem esse tipo de racismo".

E Pelé, um ídolo que foi tricampeão mundial com a seleção brasileira, disse ainda que quando era jogador foi vítima de racismo por diversas vezes. E lembra: "Na minha época, em todo lugar que a gente jogava na América Latina, Argentina, Uruguai, Paraguai, me chamavam de negro, de macaco, de tudo. A explosão do torcedor, até aqui mesmo quando a gente ia jogar no interior, eles xingavam e não era só eu. Xingavam a gente de todo nome. Eu acho, é claro, que tem que coibir, é uma coisa de racismo e, infelizmente, o racismo não é só contra o negro, é contra o japonês, contra o pobre. Tem que coibir. Mas eu acho que as coisas têm que ser levadas de modo diferente".


E assim Pelé mostrou que tem momentos que ele pode ser poeta mesmo falando. O “Negão” mostrou que muitas vezes o racismo serve para aproveitamento político. Quando entra política, tudo pode ser aproveitado para campanha. 

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