Uma defesa que acusa
Gerson
Tavares
O
descaso das autoridades sempre é a causa das maiores tragédias. E não será
diferente nessa tragédia de Santa Maria, uma bela cidade do interior do Rio
Grande do Sul e que se notabilizou pelo ensino superior que é procurado não só
pelos jovens de todo o Brasil, mas também por estrangeiros, principalmente
sulamericanos.
E
foi pensando nesse descaso doloso das autoridades que ouvi a declaração de
Jader Marques, advogado de defesa de um dos proprietários da boate Kiss, o Elissandro
Spohr, que afirmou que 830 convites da festa “Agromerados” foram distribuídos
para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria venderem uma semana
antes do evento que terminou com 237 mortos, por enquanto.
Disse
Jader que mais de 200 convites foram devolvidos pelos universitários, mas
admitiu que outras pessoas ainda poderiam pagar a hora que chegassem à porta da
boate. Mas é ele mesmo que diz que a casa suporta no máximo 691 pessoas,
segundo o Corpo de Bombeiros.
Esta
é a declaração do Jader: "A casa tinha um fluxo dinâmico. Quando dava a
lotação de 700 pessoas ninguém mais entrava. O dia mesmo da festa não estava àquela
maravilha que o Kiko esperava. A casa estava meio vazia até", só que a
Polícia Civil ouviu uma funcionária da casa, dizendo ter separado mil comandas
para serem vendidas naquela fatídica noite do dia 26 de janeiro.
O
delegado regional que está responsável pelo caso, Marcelo Arigony, falou: "As
pessoas que ouvimos até agora relatam que a casa estava lotada. Já os
funcionários dizem que a boate estava apenas cheia”.
Segundo
o Jader Marques a boate tinha plenas condições de funcionamento e quanto ao
fato da banda soltar o sinalizador, o dono da casa não sabia que aquela parte
iria acontecer. E diz Jader: "Aquilo foi uma surpresa, para causar frisson". Só esquece o Jader que aquele frisson se transformou em uma grande tragédia.
Depois que a polícia ouviu um grande número de testemunhas uma reconstituição do acidente
também foi feita no interior da boate Kiss, com a participação de cinco
sobreviventes. No depoimento de Vanessa Vasconcelos, de 31 anos, ex-gerente da
boate, Kiko mandava retirar os extintores das paredes por questão estética. Ela
trabalhou na casa de dezembro de 2010 a dezembro de 2012 e sua irmã morreu na
tragédia. E Vanessa explica o fato de “Kiko” mandar tirar os extintores: "Ele
achava feio os extintores. Mandava a gente tirar. Só colocava de volta quando
ia ter inspeção".
Mas
a defesa é rápida e os donos da Kiss afirmam que naquela noite do acidente a
casa tinha todos os equipamentos necessários contra incêndio. Mas só naquele
dia? Que sorte.
Como
um extintor foi usado na hora do fogo e não funcionou, foi a empresa que
recarregou os cinco extintores da boate que teve que se explicar, mas a
explicação foi rápida: "Me pagaram R$ 50 para recarregar cada um. Mas, se
alguém tira o lacre ou faz qualquer manuseio errado, eles podem falhar na hora
de serem acionados", afirmou Carlos Weber, dono da Previ.
Mas
e as autoridades responsáveis pela autorização de funcionamento e pela
fiscalização, o que falam? Nada falam porque são todos uns omissos. Nem o Corpo
de Bombeiros nem a Prefeitura, ninguém fala oficialmente sobre como estava a
documentação da casa. Não me venham com a historinha de que a casa estava Funcionando
com documentação provisória, porque vida não pode ser garantida
provisoriamente. Jader Marques admitiu ainda que o proprietário construiu
"uma nova face" para a boate que não constava do projeto original.
Mas será que ninguém dos órgãos responsável ficaram sabendo do fato? Será que
não houve um “cala boca” para que tudo fosse feito e não precisasse de uma
vistoria? Será que não precisava de uma autorização prévia para que essa “uma
nova fase” acontecesse?
Diz
o Jader: "Como eu disse, foram reformas feitas para melhorar o atendimento
ao público e em um período no qual já estávamos esperando a nova vistoria dos
bombeiros. Não sei dizer se a fiscalização da prefeitura chegou a ir lá e
constatou as mudanças".
Desculpem,
mas se os proprietários são culpados, esse Jader e todos os advogados que se
colocarem em defesa dessa monstruosidade também serão, mas a polícia pode
começar a buscar culpados em todos os órgãos que não se colocaram em seus
postos na hora de embargar o funcionamento de uma casa que estava irregular, já
que essa “uma nova fase” não foi vistoriada, pelo menos os bombeiros não
tiveram conhecimento. Quanto à prefeitura, dizem que para essa, qualquer “cuia de chimarrão”
deve ter pagado a autorização.
Quanto
ao Jader Marques, não podemos esquecer que ele já foi defensor do ex-goleiro
Bruno, que está sendo julgado pela morte da modelo Eliza Samudio.
Quanto
ao restante, é hora de arrolar todos por crime doloso e pronto.
2 comentários:
Esta é a situação de quem defende culpado. Não tem defesa o indefensável e assim, se o advogado forçar muito acaba virando cúmplice. Então é melhor falar que 'acho' que não é culpado, mas não boto a mão no fogo. Aliás, neste caso, literalmente fogo.
Porto Alegre
Quero saber até quando as autoridades irão continuar soltas. Elas são tão ou mais culpadas que os donos da casa e os artistas que são claramente uns tresloucados, mas as autoridades são assassinas dolosas sim.
Santa Maria
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