De quem é a culpa?

Gerson Tavares

Continuando a falar de Santa Maria, no lindo interior do Rio Grande do Sul, o Corpo de Bombeiros de Santa Maria, responsável por verificar problemas em casas noturnas da cidade, teve dois meses para vistoriar a boate Kiss, casa que se tornou o palco da segunda maior tragédia brasileira, mas não o fez por "questões administrativas". Também, para que correr se a morte pode esperar.

Pois se os “bravos soldados” tivessem feito o que a lei manda, poderiam ter visto que a boate havia instalado em seu teto, sem conhecimento do poder público, um revestimento acústico de espuma de poliuretano, material mais barato e inflamável, cuja queima causada por um artefato pirotécnico deu início ao incêndio que, até agora, matou 237 jovens e que ainda por um bom tempo estará intranquilizando muitas pessoas.

Foi em setembro de 2012 que os donos da boate Kiss receberam a notificação sobre o vencimento, que havia acontecido em agosto, do alvará de segurança contra incêndio. Em novembro, a casa informou aos bombeiros sobre a necessidade de nova inspeção, fato que não ocorreu aí já por negligência da corporação, segundo entendo.

Disse o coronel Sérgio Roberto de Abreu, comandante-geral da Brigada Militar, órgão responsável pelos bombeiros, que ela não foi feita por "questões administrativas", mas não explicou quais. Assim sendo eu posso até pensar em algum “cala boca”, coisa muito corriqueira nesses casos. Segundo o coronel, "o Corpo de Bombeiros fez a última inspeção em 2011, e a espuma não estava lá".

Mas se não ouve a inspeção de 2012, alguém está errado e não existem “questões administrativas” que tragam de volta à vida esses 237 jovens que foram vitimas da ganância dos empresários e da irresponsabilidade do Corpo de Bombeiros.

Aquela espuma que liberou a fumaça tóxica que matou por asfixia os frequentadores está lá desde agosto e ninguém responsável esteve lá para fechar a casa. E quem disse que o material foi colocado no teto em agosto, foram funcionários que trabalharam na obra.

E essa não é a primeira dos bombeiros de Santa Maria na boate Kiss. Foram eles que liberaram o funcionamento da boate com as saídas de emergência existentes, o que seria o mesmo que dizer sem saídas de emergência.

Como as regras Associação Brasileira de Normas Técnicas são regionais, as que existem no Rio Grande do Sul diz que a distância entre qualquer ponto da boate e a saída de emergência não poderia ser superior a 20 metros. Quem estava no fundo da Kiss na madrugada de domingo correu ao menos 22 metros até a porta. E de acordo com a legislação municipal de prevenção a incêndios em vigor, cabe aos bombeiros vistoriar as casas noturnas de Santa Maria. A prefeitura de Santa Maria garante que repassa, por meio de um fundo, em torno de R$ 700 mil por ano aos bombeiros para fazer vários serviços, inclusive vistorias.

Sei não, mas esse Corpo de Bombeiros de Santa Maria está muito “corporativo”.

Assim  a vida vai passando e novos fatos estarão acontecendo sem que alguém reconheça que é o culpado pelos erros acontecidos. E o carnaval chegou e muitos bailes, muitos blocos, escolas de samba e batalhas de confete estarão acontecendo até “terça-feira gorda”.

Por isso, se você é dono de algum espaço que servirá para a realização de baile, veja se tudo está ok. E se você vai brincar, brinque com consciência, se dirigir não beba e se beber, vá dormir. Divirta-se, mas sem se exceder em seus arroubos.

Feliz carnaval e até a segunda-feira, dia 18.