quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


Uma defesa que acusa

Gerson Tavares





O descaso das autoridades sempre é a causa das maiores tragédias. E não será diferente nessa tragédia de Santa Maria, uma bela cidade do interior do Rio Grande do Sul e que se notabilizou pelo ensino superior que é procurado não só pelos jovens de todo o Brasil, mas também por estrangeiros, principalmente sulamericanos.

E foi pensando nesse descaso doloso das autoridades que ouvi a declaração de Jader Marques, advogado de defesa de um dos proprietários da boate Kiss, o Elissandro Spohr, que afirmou que 830 convites da festa “Agromerados” foram distribuídos para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria venderem uma semana antes do evento que terminou com 237 mortos, por enquanto.

Disse Jader que mais de 200 convites foram devolvidos pelos universitários, mas admitiu que outras pessoas ainda poderiam pagar a hora que chegassem à porta da boate. Mas é ele mesmo que diz que a casa suporta no máximo 691 pessoas, segundo o Corpo de Bombeiros.

Esta é a declaração do Jader: "A casa tinha um fluxo dinâmico. Quando dava a lotação de 700 pessoas ninguém mais entrava. O dia mesmo da festa não estava àquela maravilha que o Kiko esperava. A casa estava meio vazia até", só que a Polícia Civil ouviu uma funcionária da casa, dizendo ter separado mil comandas para serem vendidas naquela fatídica noite do dia 26 de janeiro.

O delegado regional que está responsável pelo caso, Marcelo Arigony, falou: "As pessoas que ouvimos até agora relatam que a casa estava lotada. Já os funcionários dizem que a boate estava apenas cheia”.

Segundo o Jader Marques a boate tinha plenas condições de funcionamento e quanto ao fato da banda soltar o sinalizador, o dono da casa não sabia que aquela parte iria acontecer. E diz Jader: "Aquilo foi uma surpresa, para causar frisson". Só esquece o Jader que aquele frisson se transformou em uma grande tragédia.

Depois que a polícia ouviu um grande número de testemunhas uma reconstituição do acidente também foi feita no interior da boate Kiss, com a participação de cinco sobreviventes. No depoimento de Vanessa Vasconcelos, de 31 anos, ex-gerente da boate, Kiko mandava retirar os extintores das paredes por questão estética. Ela trabalhou na casa de dezembro de 2010 a dezembro de 2012 e sua irmã morreu na tragédia. E Vanessa explica o fato de “Kiko” mandar tirar os extintores: "Ele achava feio os extintores. Mandava a gente tirar. Só colocava de volta quando ia ter inspeção".

Mas a defesa é rápida e os donos da Kiss afirmam que naquela noite do acidente a casa tinha todos os equipamentos necessários contra incêndio. Mas só naquele dia? Que sorte.

Como um extintor foi usado na hora do fogo e não funcionou, foi a empresa que recarregou os cinco extintores da boate que teve que se explicar, mas a explicação foi rápida: "Me pagaram R$ 50 para recarregar cada um. Mas, se alguém tira o lacre ou faz qualquer manuseio errado, eles podem falhar na hora de serem acionados", afirmou Carlos Weber, dono da Previ.

Mas e as autoridades responsáveis pela autorização de funcionamento e pela fiscalização, o que falam? Nada falam porque são todos uns omissos. Nem o Corpo de Bombeiros nem a Prefeitura, ninguém fala oficialmente sobre como estava a documentação da casa. Não me venham com a historinha de que a casa estava Funcionando com documentação provisória, porque vida não pode ser garantida provisoriamente. Jader Marques admitiu ainda que o proprietário construiu "uma nova face" para a boate que não constava do projeto original. Mas será que ninguém dos órgãos  responsável ficaram sabendo do fato? Será que não houve um “cala boca” para que tudo fosse feito e não precisasse de uma vistoria? Será que não precisava de uma autorização prévia para que essa “uma nova fase” acontecesse?

Diz o Jader: "Como eu disse, foram reformas feitas para melhorar o atendimento ao público e em um período no qual já estávamos esperando a nova vistoria dos bombeiros. Não sei dizer se a fiscalização da prefeitura chegou a ir lá e constatou as mudanças".

Desculpem, mas se os proprietários são culpados, esse Jader e todos os advogados que se colocarem em defesa dessa monstruosidade também serão, mas a polícia pode começar a buscar culpados em todos os órgãos que não se colocaram em seus postos na hora de embargar o funcionamento de uma casa que estava irregular, já que essa “uma nova fase” não foi vistoriada, pelo menos os bombeiros não tiveram conhecimento. Quanto à prefeitura, dizem que para essa, qualquer “cuia de chimarrão” deve ter pagado a autorização. 

Quanto ao Jader Marques, não podemos esquecer que ele já foi defensor do ex-goleiro Bruno, que está sendo julgado pela morte da modelo Eliza Samudio.

Quanto ao restante, é hora de arrolar todos por crime doloso e pronto.

2 comentários:

Pedro Luiz Wolf disse...

Esta é a situação de quem defende culpado. Não tem defesa o indefensável e assim, se o advogado forçar muito acaba virando cúmplice. Então é melhor falar que 'acho' que não é culpado, mas não boto a mão no fogo. Aliás, neste caso, literalmente fogo.
Porto Alegre

Evilásio Fran Sérgio Holtman disse...

Quero saber até quando as autoridades irão continuar soltas. Elas são tão ou mais culpadas que os donos da casa e os artistas que são claramente uns tresloucados, mas as autoridades são assassinas dolosas sim.
Santa Maria