quinta-feira, 27 de março de 2008



Todos têm “direito” a uma vida normal

Editorial

E a decisão sobre pesquisa com célula tronco embrionária e que se arrasta há tanto tempo sem uma definição ainda vai ficar parada por mais uns dias a espera do “entendimento” do ministro Direito que pediu vistas e os trinta dias estão passando e até agora, uma grande interrogação se mostra diante de muitos que anseiam por uma vida normal. Não sei se por respeito do senhor ministro membro do STF à igreja católica, só sei que continuamos sem definição se os cientistas poderão ou não continuar com suas pesquisas que poderão ser a solução para muita gente que sofre. Seria bom que o senhor ministro Direito e todos aqueles que podem dar fim a esta indefinição, pensassem bem nas pessoas que serão beneficiadas com estes estudos.
Na verdade, falta coerência a esses cidadãos que têm o poder de decidir o que fazer com as vidas das pessoas. Já estamos vendo o sucesso das doações de órgãos para transplante há algum tempo. Quantas vidas foram salvas e quantas famílias já tiveram a alegria de ver seus entes queridos voltando a uma vida normal depois de estarem desenganados, esperando a morte chegar.
Para que essa doação de órgãos aconteça, só é preciso que aconteça a morte cerebral. Constatadas, as equipes médicas, agindo com rapidez e precisão, já salvaram e irão ainda salvar milhares de vidas.
Para continuarmos com as pesquisas com células tronco embrionárias que poderão trazer benefícios para muitos, só é necessária liberação para uso, de embriões que, se não forem usados para este fim, serão fatalmente descartados e fadados a descerrem pelos ralos dos laboratórios.
Eu pergunto: Qual a diferença entre doação de órgãos e uso de embriões descartáveis para salvar vidas?

As diversas possibilidades de utilização das células-tronco embrionárias têm gerado discussões no mundo inteiro. De um lado, pesquisadores, famílias e pessoas portadoras de algum tipo de doença e que poderiam ser beneficiadas pela utilização dessas células, fazem pressão para que as pesquisas sejam liberadas. Em contrapartida, uma parcela da sociedade liderada pela Igreja Católica questiona os conceitos éticos de sua utilização, pois julga que esse procedimento resultará na morte do embrião.
Apesar das divergências, países iniciaram a busca de soluções para diversas enfermidades como o mal de Parkinson, diabete e distrofias, entre outras, com essa nova ferramenta. No entanto, a dificuldade é a falta de legislação em grande parte dos países.

Aqui no Brasil, a Lei de Biossegurança, de 2005, estabeleceu que poderiam ser utilizados, para pesquisa e terapia, embriões humanos obtidos a partir da fertilização in vitro. Os embriões devem ser considerados inviáveis para a reprodução humana e devem estar congelados há três ou mais anos. A decisão do Congresso Nacional foi vista como uma vitória pelos cientistas e para os portadores de necessidades. O assunto, no entanto, chegou ao Supremo Tribunal Federal, mas com o pedido de vista do ministro Carlos Alberto Direito, vai emperrar mais um pouco essa decisão.
Mas como todos nós sabemos que isto vai depender muito da Igreja já que a indicação de Carlos Alberto Menezes Direito ao STF teve apoio do representante diplomático do Vaticano do Brasil, d. Lorenzo Baldisseri e o Vaticano é forte opositor das pesquisas, mas na certeza que esta oposição não é comungada por DEUS, resolvi fazer à CNBB uma proposta, que ao meu ver, é justa.
Se Igreja entende que uma pessoa com morte cerebral pode ser doadora de orgão para salvar outra vida e não quer entender que um embrião pode dar uma vida normal a outro ser que só depende disso, faço a seguinte proposta: que a Igreja, aqui no Brasil, se responsabilize socialmente e financeiramente pelo tempo de vida de todos os brasileiros que existam e que por ventura venham a existir e que poderiam ter uma vida saudável, caso não houvesse essa barreira em relação a célula-tronco embrionária. Vejo essa contra-partida como um ato humanitário por parte da Igreja, embora eu ache ainda, desumana.
É hora da Igreja pensar não só com a razão que é o cerebro, mas pensar também com o coração, este sim, a alma.
Gerson Tavares

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