terça-feira, 25 de março de 2008



Editorial

Quando as pessoas falam sem terem nada o que temer, normalmente elas falam o que realmente sentem. Deixam brotar a verdade e só então podemos sentir a realidade. Onde se escuta que a culpa pelas mortes que acontecem nas favelas é sempre da polícia, mas se não houver pressão por parte dos “donos” das comunidades, pode ser que a realidade seja outra.
Agora, moradores de 101 comunidades carentes da capital romperam o silêncio e ganharam voz em uma pesquisa que, entre outros resultados, quebraram mitos. Até o blindado da polícia, o tão mal falado “caveirão”, que é usado em favelas para combater bandidos e que é motivo de críticas dos líderes comunitários, pois bem, nesta pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, não foi execrado e sim, aprovado por 47,9% dos entrevistados e só 29,1% desaprovam o uso do blindado.
A legalização das drogas que alguns teimam em chamar de “leves” e que têm defensores em vários seguimentos, encontra entre as pessoas das comunidades carentes uma parcela de 60,5% de contras e só 20,2% a favor da legalização. O aborto também encontra dentro dessas comunidades uma rejeição de 66,1% contra apenas 19,6% que se colocam a favor do aborto. Quanto o uso das forças armadas no combate ao crime, 48,9% está a favor e somente 29,8% se colocam contra.

Mas tudo isso aconteceu, porque aquele cidadão que respondeu a pesquisa teve a garantia de não ser identificado. Ele teve a certeza que não correria o risco de ser identificado pelos “donos” das comunidades. E isso fica bem claro quando na reportagem sobre a pesquisa os moradores das favelas que foram “identificados” por nomes fictícios, se pronunciaram em favor de medidas de moralização em seus territórios. Chama à atenção na reportagem, declaração de uma moradora de uma favela na Zona Norte que deu o nome fictício de Flávia, que disse ver a destruição diária de pessoas e famílias por causa de drogas, aquelas mesmas que, alguns inconseqüentes teimam em chamar de “leves”. Quanto à liberação, diz ela: “esta é uma pergunta que nem deveria ser feita. Liberar drogas é um absurdo. É o mesmo que colocar fogo no mundo”.
Mas uma coisa me chamou atenção. Os “líderes” comunitários deram seus nomes e defenderam o não uso de blindado, o não uso de forças armadas e toda e qualquer medida para acabar com o terror dos bandidos em comunidades carentes. Com que interesse? Será que...?

Não... Não posso acreditar.

Gerson Tavares

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