Quando
bandido mexe na lei
Gerson
Tavares
Este
título é só uma constatação daquilo que o presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirmou na quinta-feira em plenário,
durante a sua explanação no julgamento da “quadrilha do mensalão”. Tudo porque
ficou constatado que um projeto de lei foi alterado de propósito para fazer com
que o resultado do julgamento pelo STF fosse beneficiar muitos dos réus.
E
Carlos Ayres Britto não pediu licença para falar sobre aquela manobra que para ele "é
um atentado veemente, desabrido, escancarado" à Constituição. Esta
declaração do ministro é em relação à lei 12.232, que foi sancionada pelo então
presidente Luiz Inácio da Silva lá no ano de 2010.
Como
tudo que acontece nos meios da política das “negociatas”, um texto que trata da
contratação de publicidade por órgãos públicos e durante sua tramitação na
Câmara, foi propositalmente alterado por deputados do PT e do PR, partidos que
têm membros entre os réus que naquele período faziam parte dos aliados de Lula.
E Ayres Britto não escondeu e nem fez segredo que a redação "foi
intencionalmente maquinada" para legitimar ação pela qual os réus eram acusados.
Com esse ato, a redação tinha poder de transformar o ilícito em total
legitimidade.
Esse episódio teve início em 2008 quando o ex-deputado e hoje
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A ideia era, com o esse projeto, regular,
entre outras coisas, os repasses do "bônus-volume", que são comissões
que as agências recebem das empresas de comunicação como incentivo pelos
anúncios veiculados.
Tudo
isso fica claro quando encontramos no processo do mensalão, o Ministério
Público acusando uma empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza de ficar com quase
três milhões de reais de bônus que deveriam ser devolvidos para o Banco do
Brasil, contratante da empresa. Segundo a acusação, o dinheiro foi desviado
para abastecer o esquema de compra de votos no Congresso.
Como
era para o bem da “quadrilha” que era chefiada pelo Lula, e a proposta original
do petista José Eduardo Cardoso, permitia que as agências ficassem com o bônus, embora constasse ali, que a lei só valeria para contratos futuros, foi feita às
pressas uma mudança pela Comissão de Trabalho em 2008, que estendeu a regra a
contratos já finalizados. Meteram a mão no cofre do banco do Brasil e ainda
acharam pouco.
Isso tudo aconteceu porque o relator do projeto na comissão foi o deputado paulista
Milton Monti, que por acaso é do PR, que também por acaso está metido até ao
colarinho no escândalo do mensalão. E ainda é por acaso que um dos principais
dirigentes desse PR é o deputado Valdemar da Costa Neto, que aparece também como
réu lá no Superior Tribunal Federal.
Mas
como todos esses “safardanas” são artistas, durante a discussão, o então
deputado Paulo Rocha, do PT do Pará e que também é réu no caso do mensalão, pediu
uma semana para analisar o texto. Afinal, como um bom mensaleiro, Rocha
precisava de tempo para julgar os pros e contras.
E
a coisa não parou por ai. Logo depois, Monti abriu prazo para emenda. O
deputado petista Cláudio Vignatti, de Santa Catarina, apresentou algumas sugestões
e entre elas a que estendia a aplicação da lei a licitações abertas e contratos
em execução. Prontamente Monti acatou a sugestão e ainda incluiu os contratos
encerrados. Coisa de malandro.
Então
o texto seguiu a tramitação e virou lei e que só foi usada em julho pelo
Tribunal de Contas da União para validar a ação de Valério de ficar com os R$
2,9 milhões.
Agora
chegou a vez da Justiça se pronunciar e a quinta-feira serviu para mostrar que
tudo está errado. Ayres Britto falou que a mudança no projeto de lei é
"desconcertante". E foi fundo em sua declaração: "Um trampo, me
permita a coloquialidade, à função legislativa do Estado".
E
essa turma ainda quer continuar a comandar o pobre Brasil.
2 comentários:
Quando é o próprio bandido que faz e ou mexe na lei, claro que é sempre para benefício próprio.
Lei nunca deveria ser feita ou revista por político. Só homens sérios têm esse direito e isso, de sério, uma grande maioria dos políticos não são mesmo.
Brasília
Não existe lei no Brasil exatamente porque esses políticos fazem tudo para que nada aconteça com os bandidos, que aliás, formam a maioria das Casas Legislativas e de Executivas do país.
Cono fazer lei com essa bandidagem que tomou conta da nossa triste terra.
Londrina
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