BC APONTA 'RELAÇÃO
PROMÍSCUA'
ENTRE BVA E KPMG
Gerson Tavares
O
Banco Central tem o maior interesse de dar um jeito nos escândalos e salvar a
Dilma. Por isso um relatório da comissão de inquérito do Banco Central sobre o
banco BVA acusa a KPMG Auditores de ter induzido depositantes, investidores e a
autoridade monetária a erro.
Isso
porque a auditoria omitiu, segundo o BC, fatos relevantes de seus relatórios e
ainda manteve por vários anos sua opinião de que as demonstrações financeiras
traduziam a real situação financeira e econômica do banco, quando este já dava
sinais de sérios problemas e indícios de irregularidades.
O
banco teve sua liquidação decretada em meados do ano passado e deixou um
passivo de R$ 6 bilhões. O relatório final do BC, revelado pelo Estado,
considerou que o prejuízo foi de R$ 1,6 bilhão, seguindo os cálculos feitos em
fevereiro de 2013 pelo então interventor da instituição, Eduardo Félix Bianchini.
O liquidante Valder Carvalho apontou em outubro do ano passado que R$ 4 bilhões
do passivo não teriam como ser liquidados com os ativos encontrados. Mas estima
que é possível recuperar até 40% desse valor por meio de cobrança judicial ou
acordos.
O
relatório aponta irregularidades, indícios de fraude, gestão fraudulenta e
desvio de recursos no BVA. No capítulo que trata da responsabilidade da
auditoria externa, a comissão de inquérito diz que pode ter contribuído para a
conduta imprópria da KPMG "a relação promíscua constatada entre auditores
e banco auditado", pelo fato de o BVA ter contratado um ex-auditor. O BVA
contratou em abril de 2008 o ex-funcionário da KPMG, Edison Gandolfi, como
superintendente de contabilidade e ele chegou a diretor. O executivo havia
deixado a KPMG meses antes. As regras para garantir uma auditoria independente,
entretanto, preveem um período mínimo de dois anos para que um auditor possa
ser contratado pela empresa auditada.
Mas
o BC vai além: "Isso sem considerar a possibilidade da ocorrência de
condutas criminosas a serem apuradas pelos órgãos competentes para a
investigação criminal".
A
KPMG não quis se manifestar, argumentando que não teve acesso ao relatório do
BC. Segundo o documento, porém, um processo administrativo foi instaurado em
outubro por causa da constatação de várias omissões da auditoria.
Segundo
o BC, o BVA concedia empréstimos sem respeitar os princípios de seletividade,
garantia e liquidez. Na inspeção realizada pelo órgão constatou-se a
necessidade de provisionamentos para esses créditos de má qualidade, da ordem
de R$ 890 milhões. Os auditores, segundo o BC, constataram essa deficiência de
provisão, mas se omitiram. Além disso, considerou que os auditores tinham
indícios suficientes de existência de fraudes sobre pagamentos de serviços de
empresas ligadas ao BVA sem que estes tivessem sido prestados e não comunicaram
à autoridade monetária.
Mas
por que será que só agora, seis anos após o BC se pronunciou? Será que só agora
o fato desagradou a Equipe Econômica?
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