quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Chegou à vez de José Serra




Gerson Tavares



Depois de alguns dias de ausência estou de volta e começo falando sobre o José Serra. Como de regra, foram 12 minutos para perguntas e respostas em mais uma entrevista do Jornal Nacional. Willian Bonner e Fátima Bernardes pelo terceiro dia fizeram perguntas aos presidenciáveis e pelo sorteio, na quarta-feira, lá estava o candidato tucano diante das câmeras.

E Bonner começou dizendo que Serra, desde o início da campanha, tem procurado evitar críticas ao presidente Lula, dizendo inclusive que em muitas vezes fez até elogios ao presidente. E perguntou: “O senhor acha que essa é a postura que o eleitor espera de um candidato da oposição?”. E Serra, com firmeza falou que Lula não é candidato e que depois de primeiro de janeiro, nem será mais presidente da República. E deu sua primeira estocada ao falar que a partir daquela data, quem estiver lá no Palácio vai ter que governar. E para tocar na Dilma falou: “Não há presidente que possa governar na garupa, ouvindo terceiros ou sendo monitorado por terceiros. Eu estou focado no futuro. Hoje tem problemas e tem coisas boas. O que nós temos que fazer? Reforçar aquilo que está bem e corrigir e poder melhorar aquilo que não andou direito. É por isso que eu tenho enfatizado sempre que o Brasil precisa e que o Brasil pode mais. Onde? Na área da saúde, na área da segurança, na área da educação, inclusive do ensino profissionalizante. Meu foco não é o Lula. Ele não está concorrendo comigo”.

William Bonner deixou que todos notassem que ele havia entendido o recado e sem pestanejar perguntou se o José Serra avalia o risco que corre quanto aquela sua postura, que pode ser interpretada como um receio de ter que enfrentar a popularidade alta do presidente Lula?

E Serra muito seguro respondeu que em hipótese alguma temia e disse que não via por quê. E frisou: “Eu acho que as pessoas estão preocupadas com o futuro, né? Quem vai tocar o Brasil, quem tem mais condições de poder tocar o Brasil para frente, que não é uma tarefa fácil. Inclusive de pegar aqueles problemas que hoje a população considera como os mais críticos e resolvê-los. Dou como exemplo, novamente, entre outros, a questão da saúde. Então, o importante agora é isso. E as pessoas estão nisso. O governo Lula fez coisas positivas, né? Outras coisas deixou de fazer. A discussão não é o Lula. A discussão é o que vem para frente, tá certo? Os problemas do Brasil de hoje e o que tem por diante”.

E Fátima Bernardes deu o seu primeiro recado: “O senhor tem insistido muito na tecla de que o eleitor deve procurar comparar as biografias dos candidatos que estarão concorrendo, que estão concorrendo nesta eleição. O senhor evita uma comparação de governos. Por exemplo, por que, entre o governo atual e o governo anterior?”. Serra respondeu com segurança: “Olha, porque são condições diferentes. Eles governaram em períodos diferentes, em circunstâncias diferentes. O governo anterior, do Fernando Henrique, fez uma... muitas contribuições ao Brasil, entre elas o Plano Real. A inflação era de 5.000% ao ano, né? E ela foi quebrada a espinha. As novas gerações nem têm boa memória disso. E várias outras coisas que o governo Lula recolheu e seguiu. O Antonio Palocci, que foi ministro da Fazenda do Lula e hoje é o principal assessor da candidata do PT, nunca parou de elogiar, por exemplo, o governo Fernando Henrique. Mas nós não estamos fazendo uma disputa sobre o passado. É como se eu ficasse discutindo, para ganhar a próxima Copa do Mundo, quem foi o melhor técnico: o Scolari ou o Parreira?”. Quando Fátima ia intervir, Serra foi mais fundo: “Se o Mano Menezes fosse estar preocupado em saber quem era melhor para efeito de ganhar a Copa de 14. Isso é uma coisa que os adversários fazem para tirar o foco de que o próximo presidente vai ter de governar e não pode ir à garupa. E tem que ter ideias também. Não só coisas que fez no passado, mas também ideias a respeito do futuro”.

Fátima Bernardes precisava colocar lenha no fogo e perguntou se avaliar, analisar fracassos e sucessos não ajuda o eleitor na hora de ele decidir pelo voto dele e Serra voltou: “E é isso o que eu estou fazendo. Por exemplo, mostro na saúde. Eu fui ministro da Saúde. Fiz os genéricos, os mutirões, a campanha contra a Aids que foi considerada a melhor campanha contra a Aids do mundo, uma série de coisas. A saúde, nos últimos anos, não andou bem. Por exemplo, queda, diminuição do número de cirurgias eletivas, aquelas que não precisa fazer de um dia para o outro, mas são muito importantes. Caiu, né? Pararam os mutirões. Muita prevenção que se fazia acabou ficando para trás. Faltam ainda hospitais nas regiões mais afastadas dos grandes centros. Tem problemas com as consultas, tem problemas de demoras. Enfim, tem um conjunto de coisas, inclusive relacionadas, por exemplo, com a saúde da mulher. Tudo isso precisa ser equacionado no presente. Eu estou apontando os problemas existentes”.

E foi aí que o William Bonner partiu para a questão da política. Falou que "nesta eleição existem contradições muito claras nas alianças formadas pelos dois partidos que têm polarizado as eleições presidenciais brasileiras nos últimos 16 anos, né? O PT se aliou a desafetos históricos. O seu partido, o PSDB, está ao lado do PTB, um partido envolvido no escândalo do mensalão petista, no escândalo que inclusive foi investigado e foi condenado de forma muito veemente pelo seu partido, o PSDB". Mas José Serra gostou do tema e falou que o PTB, e deu o exemplo de São Paulo, sempre esteve com o PSDB, de alguma maneira e isso teve uma influência na aliança nacional.

Falou que os partidos são muito heterogêneos e como a pergunta se referia ao PTB por causa do mensalão, ele disse que o personagem principal ou os personagens principais do mensalão nem foram do PTB. E como todos esperavam falou que os personagens principais foram do PT e que a apuração só aconteceu mediante denúncia do Roberto Jeferson, que era então líder do PTB. Foi neste momento que William Bonner disse que os nomes dos petebistas estavam numa vasta lista e Serra retrucou: “Você tem 40 lá no Supremo Tribunal Federal..., mas o PT ganha disparado”.

Ao se falar em Serra, fala-se de experiência e foi aí que Fátima Bernardes deu sua estocada porque na hora de escolher o vice, pintou o nome do deputado Índio da Costa e ela perguntou: “O senhor considera que o deputado, em primeiro mandato, está pronto para ser o vice-presidente, uma função tão importante?”. Serra disse que não é uma pessoa centralizadora embora tenha fama, mas que no trabalho delega poderes. Só que cobre muito e acompanha tudo. Com isso ele quis dizer que se por acaso o vice assumir, ele será ainda o cacique da taba.

Quando Fátima sentiu que o tacape estava lhe escapando da mão falou que a experiência de Índio é municipal. Que ele teve três mandatos de vereador, ao qual José Serra acrescentou o mandato de deputado federal.

A entrevista continuou, Serra falou da calamidade que são as estradas federais e deu a entender que irá usar o modelo que usou nas estradas de São Paulo e esta seria realmente uma solução para quem precisa viajar.

Quanto à desenvoltura dos três candidatos, José Serra mostrou que está bem mais preparado para falar. Quanto a governar, até agora só ele pode ser analisado, já que os outros candidatos nunca tiveram um cargo executivo.

Resta saber se o eleitor irá analisar qualidade ou “preço”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mas de que adianta ser o mais preparado, o mais sério e tudo o mais. O povo não olha pelo lado do ser e sim do ter.
Não precisa ser honesto, é só ter o que trocar pelo voto.
Não precisa ser administrador, é só ter coragem de pagar pelo voto.

É assim que a coisa está funcionando hoje. Eleitores vendilhões de votos e políticos que pagam bem para se elegerem e depois 'roubarem o povo'.

Pobre daquele que quer fazer política séria. Este não sobrevive e se tentar, morre literalmente.


Vanilda Campello Lopes
Asa Norte- Brasília