A BEIJA-FLOR ENTROU
NA AVENIDA
NA AVENIDA
COM AS MÃOS SUJAS DE SANGUE
Gerson Tavares
Sou do tempo em que carnaval era coisa bem brasileira e até
os enredos das escolas de samba tinham sempre temas nacionais. E foi assim que
a Portela conseguiu ser vencedora de tantos carnavais e até mesmo a Beija-Flor,
que é uma escola comercial, seguia as normas que, assim como no “bicho”, valia
o que estava escrito.
Mas a Beija-Flor resolveu que era hora de inovar e foi
buscar uma boa grana lá no além-mar. Mas na verdade essa grana estava só sendo
recambiada, já que a Dilma Rousseff deu "de mão-beijada” muito mais para
um “seu amigo ditador” lá na Guiné Equatorial.
E foi assim que a Beija-Flor entrou no carnaval de 2015 com
o maior patrocínio jamais recebido por qualquer escola de samba. Foram mais de
10 milhões de reais. Até aí nada de mais, já que muitas empresas estão aí
distribuindo dinheiro a rodo e porque não fariam isso para ver a Beija-Flor
voltar a tentar um campeonato?
E muita gente estava intrigada e queria saber quem era esse
empresário que distribuiu essa benesse toda para exibir por apenas noventa
minutos o seu produto na avenida. Todos queriam saber o que explora esse
megaempresário. Seria ele um cervejeiro? Dono de frigorífico? Supermercado?
Só quando foi declarada a profissão do “mecenas”
descobrimos que essa pessoa explora vidas humanas, aliás, para ser mais direto, explora
os pobres africanos que vivem em condição abaixo da miséria na Guiné
Equatorial.
Na verdade trata-se do Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que é mais
conhecido como Obiang, um ditador que há 35 anos manda e desmanda na
Guiné Equatorial, país da África Central. E a estória correu o mundo e entrou
para a história do Brasil ou até mundial. Na Europa virou manchete: “O ditador de
Guiné Equatorial deu 3 milhões de euros ao grupo carnavalesco”. Vejam que mesmo
em euros, todos acham que foi uma grana de respeito.
Mas se falarmos da história desse país que é um dos maiores
produtores de petróleo da África, vamos ver que ele não passa de uma grande
mentira, já que enquanto o povo vive na miséria, Obiang vai às compras pelo
mundo, adquirindo luxuosos apartamentos no Rio de Janeiro, Londres, Buenos
Aires, Paris e uma mansão de 30 milhões de dólares na Califórnia, sendo que esta
última foi um presente para o “filhão”, que assumirá os negócios quando Obiang
não estiver mais por aí. Os gastos impressionam até mesmo quem é muito, muito
rico.
Assim sendo não sobra muito para os cerca de 700 mil demais
habitantes. Isso, apesar da renda por cidadão ser de mais de 20 mil dólares, para 76% da
população sobra viver abaixo da linha da pobreza.
Mas já que o enredo da Beija-Flor diz ao mundo a "sua verdade" cantando que “Um griô (homem sábio)
conta a História: um olhar sobre África e o despontar da Guiné Equatorial.
Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade”, cheguei a uma realidade que
serve apenas para aqueles que entraram na Avenida Sapucaí. Foram muitas pessoas,
incluindo muitos negros, que brincaram e sambaram com o dinheiro de outros tantos
negros africanos que sofrem com a mão pesada de um ditador que governa por
decreto. E o que dizem disso tudo os movimentos sociais? É só uma festa
popular?
Mas a Beija-Flor tratou logo de “tirar da reta”, dizendo que
não se trata de política. Em nota diz ser apenas um “lance cultural”. Diz a
nota: “O tema tem viés estritamente cultural e não aborda o formato de governo
do país. Buscamos enaltecer a arte e a força do povo da Guiné Equatorial. Bem
como a transformação dos benefícios das suas riquezas naturais em melhorias
para a população”.
Então eu pergunto: Será que só a “família real” pode ser
considerada “povo da Guiné equatorial”? Mas a Beija-Flor vai mais longe e diz
estar cantando a liberdade; “Negro canta, negro clama liberdade!”. E diz que
foi para isso que aceitou de bom grado o dinheiro destes mesmos negros. Já eu
digo que “bandido é sempre bandido”.
É exatamente por isso que sempre que me perguntam como
ajudar de longe aqueles que mais precisam pelo mundo, eu digo que não sei. Acho
muito difícil mesmo e não quero pecar. Não é dando dinheiro para "bandido ditador" que vou ajudar um povo miserável que vive no lixo que uma família milionária gera.
Mas uma coisa é certa e deixo aqui bem clara: “Não é sendo conivente com um dos ditadores mais sanguinários de todos os tempos que eu vou viver em paz com minha consciência”.
Mas uma coisa é certa e deixo aqui bem clara: “Não é sendo conivente com um dos ditadores mais sanguinários de todos os tempos que eu vou viver em paz com minha consciência”.
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