quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Andando e descobrindo coisas IV

Gerson Tavares


Talvez não seja por culpa dele, mas o idoso de hoje em dia, depois que se aposenta, está ficando desunido. Lembro antigamente que o aposentado vivia em sua varanda, deitado na rede ou andando pelo jardim olhando as plantas. Ele brincava com os netos e virava o terror dos pais daquele netinho, que ele, ao deseducar, virava seu ídolo. Lembro do tempo dos aposentados sentados nas pracinhas jogando dominó, dama e até xadrez. E o jogo de cartas com a canastra e o buraco que não fechava porque a carta não vinha na mão.

Tudo porque naquela época o aposentado quando passava da ativa para o seu período de ociosidade, levava para seu descanso, um salário digno e quando, no dia primeiro de maio vinha o aumento do salário mínimo, lá vinha o seu aumento honesto, até porque o governo também o era.

Mas hoje, muitos daqueles que se aposentaram com dez salários, estão recebendo pouco mais ou ate mesmo, um salário mínimo. Os salários foram se achatando de tal modo que muito breve a Previdência só vai ter que pagar salário mínimo.

E com isso, o idoso brasileiro voltou ao mercado de trabalho. As firmas descobriram que seria muito bom ter “boy idoso”. E entrar em fila de banco para pagar as contas, andar de ônibus para lá e para cá o dia inteiro e ainda muitas outras coisas mais que o idoso tem as facilidades que a lei garante, foi a solução. Sai muito mais barato para as empresas e o idoso fatura um “por fora”. Só esqueceram que as “filas especiais” dos bancos estão inchadas com idoso pagando mil coisas e outras pessoas idosas, as senhoras grávidas e os deficientes estão sendo prejudicados. Os bancos não viabilizam outro caixa porque a culpa não é deles e os empresários estão aumentando seus lucros, pagando um salário “sem-vergonha ao idoso”, em detrimento de muitos jovens que estação ficando sem emprego.

Mas até ai eu entendia. Os velhinhos saem da monotonia dos lares e gastam o seu tempo ocioso fazendo “fofocas” nas filas, além de estarem ganhando “um qualquer”. Mas ontem eu descobri uma nova função para o idoso. E esta realmente é inusitada.

Sabe aquelas moças e rapazes que ficam distribuindo aquelas “felipetas” pelas calçadas das cidades? São aquelas mocinhas de “short” bem curtinhos ou aquelas micro-saias mostrando a calcinha, que ficam zanzando pelas calçadas e aqueles rapazes de boné de pala para trás, metidos a fankeiros que teimam em atrapalhar os transeuntes estendo os braços para entregar aquela maldita “felipeta” que você não quer ler. Pois bem, ontem eu vi um idoso, com fisionomia já dos seus oitenta anos fazendo aquele trabalho.

Os jovens que fazem esse trabalho desenvolveram uma técnica que é ficar com o bolinho de “filipetas” na mão esquerda e com uma única na mão direita, eles batem nas outras e chamam a atenção dos passantes pelo barulho do papel. Quem se distrai com o barulho, acaba pegando o papel para logo depois jogar no chão.

E foi aí que me chamou a atenção esse senhor idoso, que talvez por efeito da idade, já não tem uma coordenação motora satisfatória e se “embananava” com aquele movimento rápido que o jovem faz. E ao tentar fazer aquele movimento, sempre que ia entregar o papelzinho o passante já ia longe. Eu parei para assistir aquela cena digna de qualquer “filme pastelão” e não posso negar que foi um divertimento.

Ao cair em mim, fiquei muito triste com a minha primeira reação de riso. Senti que, mesmo com a válida tentativa daquele senhor, aquela não era uma função para idosos como ele.

Eu me senti um pouco culpado de assistir aquela cena e ainda pensar em tirar partido contando para vocês.

E neste momento que pensei: “Oh classe desunida!”.

Nenhum comentário: