Gerson Tavares
Estamos em uma boa época para falar dos “profetas”. O Natal está aí, batendo às portas, em algumas com grandes presentes e em outras com pequenos presentes e em uma grande maioria com enormes problemas.
Sejam problemas de falta de trabalho, de falta de dinheiro, de doenças, mas sempre problemas que para a grande maioria da população não acena com uma saída, nem imediata e nem mesmo a grande prazo.
E é exatamente aí que se apresentam os falsos profetas. Sou do tempo em que se contava nos dedos o número de religiões que existiam no mundo. Hoje precisamos de calculadora para chegar ao número astronômico de “igrejas” que foram aparecendo pelo mundo e principalmente pelo Brasil, o maior exportador de novas seitas para o mundo, mas todas elas, se aproveitando das necessidades do fiel.
Eu tinha um amigo, que infelizmente já não se encontra entre nós, o velho comandante Antonio Farias, que conhecia muito bem como essas novas “seitas”, que já se dizem religiões, foram surgindo. E ele sempre contava que uma surgiu dentro de um “Centro de Umbanda”, na região serrana do Rio de Janeiro, onde dois “auxiliares” da mãe de santo resolveram fundar uma “igreja” e então caíram no mundo e hoje um deles é o dono de um “império da fé” onde consegue vender até terreno no céu e o outro entrou para a política com os votos dos fieis.
E outros “profetas” foram surgindo e tem até parentes que se digladiam pelas “ovelhas” que estão pelo caminho precisando de um pastor para lhes mostrar o caminho do “pasto”. São essas ovelhas que representam o bom faturamento ao final do mês. Mas aqui eu abro parênteses, já que como dizia um político, num passado não muito distante, “cunhado não é parente”, por isso quando digo que “até parentes se digladiam”, realmente eles são apenas cunhados e se odeiam.
Mas como eles têm a mania de aprender o modo de “arranjar” dinheiro numa “igreja” para logo adiante fundarem outra, assim com Edir Macedo, R. R. Soares e tantos outros que foram criando suas próprias “maquinas de fazer dinheiro”, tem um dissidente da “Universal” que se autodenomina “apostolo”, o que quer dizer que ele é realmente chegado ao Jesus Cristo, que resolveu há treze anos atrás, fundar a sua “igreja” à qual deu o suntuoso nome de “Igreja Mundial de Poder de Deus”, nome que não dá espaço nem para chinês clonar. Então o Valdomiro Santiago, que tem muitas horas mês de programas de televisão, todos os dias faz milagres diante das câmeras. Ele diz que cura câncer, cura Aids, diabetes então nem precisa falar. É o maior milagreiro da história mundial. Jesus tinha muito que aprender com o Valdomiro para chegar ao céu e falar para o Pai que ele é santo.
Fico impressionado como as pessoas são crédulas nessa terra. O Valdomiro Santiago lota o ginásio de esportes da Portuguesa, no Canindé, em São Paulo e tome a fazer milagres. Ele lembra muito o Roberto Lengruber, quando fazia milagres ali pertinho, nos estúdios do SBT, na Vila Guilherme, no programa “Aqui e agora”, que tinha direção do Wilton Franco.
Lembro muito bem desse período de milagres, no ano de 1982, porque eu fazia parte da equipe de produção do programa “Boa Noite Brasil”, com apresentação do Flávio Cavalcanti, na TV Bandeirantes. E com tantos milagres que eram feitos de segunda a sexta-feira no “Aqui e Agora”, resolvemos fazer também um “programa de milagres”. Foi então que criamos um paranormal espanhol e durante quase um mês, colocamos chamadas alertando o povo para a apresentação deste paranormal que era a maior atração da Europa. O pessoal da imprensa que nos conhecia bem ficou preocupado como nós iríamos entrar nessa onda de mentiras, mas era exatamente isso que nós precisávamos, era essa dúvida, e assim no dia da apresentação, com o auditório lotado, um dos nossos produtores que é uruguaio, o Rubito, chegou ao Teatro Bandeirantes, caracterizado de um personagem meio “bruxo”, e começou a fazer milagres. Todos os “doentes” eram artistas de circo que ali estavam para mostrar que as mentiras eram todas pagas por pequenos cachês. E foi aí que com o paranormal circulando pelo palco, cego começou a enxergar na hora, paralíticos andavam, cancerosos ficaram curados, surdo ouvia tudo, muletas voaram pelo auditório, cadeiras de rodas andavam vazias pelo palco e a plateia já entrava em transe.
Foi quando Flávio, arrancando a barba do “bruxo”, mostrou a todos que aquilo tudo era uma farsa, assim como todos os milagres que aconteciam não só na televisão, mas também pelas “igrejas” que vendiam milagres e ali, o “santo milagreiro” não passava de um membro da equipe de produção do programa. E com esse alerta, não só para o público, mas também para as autoridades, demos o nosso recado que era exatamente “a vinda dos falsos profetas”, tão bem alertada pelo Livro Sagrado.
No dia seguinte Roberto Lengruber, Wilton Franco e os “doentes de araque” foram presos quando os milagres aconteciam no auditório da Vila Guilherme. O programa acabou e as próprias “igrejas” deram uma parada naquela onda de milagres.
Mas a coisa está de volta e ninguém fala nada. Nas “igrejas” e agora na televisão já com os próprios pastores fazendo seus “milagres”, tirando a oportunidade que “Lengrubers da vida” apareçam novamente para ganharem alguns "trocados". Agora tudo isso acontece abertamente e ninguém toma uma atitude.
Mas eu tenho a explicação para isso. Essas “igrejas” redem votos, tanto é que muitos dos senadores e deputados são do chamado “baixo clero” e assim, como fazer alguma coisa contra as religiões? Mas ainda para agravar a coisa, como estão acontecendo tantos milagres de reprodução de dinheiro e que são feitos pelos próprios políticos quase de diariamente, quem tem tempo de se incomodar com milagres feitos por um simples “apóstolo”?
Ainda se esse apóstolo fosse o Judas Iscariotes, aí até poderia aparecer algum ministro, deputado ou mesmo senador, querendo entrar na divisão dos 30 dinheiros. Não pelo dinheiro, que eles sabem como meter a mão em muito mais, mas só pela fama do “cara”.
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