“Zé Doidão” e a Consciência Negra

Gerson Tavares

Sexta-feira, dia 20 de novembro, celebração do “Dia da Consciência Negra” e o meu amigo “Zé Doidão”, um digno representante da raça negra, me fez acordar para fatos que precisam ser olhados com muito carinho. E ele foi logo falando que sempre fica pensando se não existe uma certa incoerência no fato do “Dia da Consciência Negra”. O dia tem um significado especial para os negros brasileiros que reverenciam Zumbi como o herói que lutou pela liberdade e como um símbolo de liberdade. Mas por que ele, Zumbi?

O Quilombo dos Palmares era uma comunidade auto-sustentável, um “reino” formado por escravos que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Foi batizado e recebeu o nome de Francisco. Zumbi recebeu os sacramentos católicos, aprendeu português e latim. Mesmo com toda a cultura que lhe era administrada, Zumbi resolveu seguir a vida e com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e por ser um estrategista militar respeitável, aos vinte e poucos anos resolveu libertar escravos.

Mas diz a história que os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados por “soldados” de Zumbi e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumana da escravidão e sim, apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia.

A luta pelo poder era tamanha, que negros, aliados a Zumbi, mataram o rei Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo. Seu governo também teria sido caracterizado pelo despotismo. E é bom lembrar que o despotismo é uma forma de governo em que o poder se encontra nas mãos de apenas um governante. Nesta, os súditos são tratados como escravos.

Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela “severa justiça” do quilombo.

E é ai que o Zé pergunta com a Consciência Cidadã que faz parte do seu ser: Quem deveria ser reverenciado como o grande líder da luta pela abolição? Você votaria em Zumbi ou em José do Patrocínio?

E completa “Zé Doidão”: É só uma questão de consciência.