terça-feira, 4 de novembro de 2008

E eu me pergunto: Serei eu o racista?



Gerson Tavares


Fui casado com uma mulher negra maravilhosa. Uma pessoa que sempre procura mostrar o lado bom das coisas, ótima companheira e mãe, que procurou educar o “nosso” filho da melhor maneira possível. “Nosso” filho é hoje um homem de bem, muito bem realizado e que só nos dá alegrias com as suas realizações e as nossas vidas se misturam de um modo muito legal.

Em 1989 produzi um espetáculo teatral, onde coloquei 28 negros em cena. O texto me foi mostrado pelo saudoso ator e diretor, Haroldo de Oliveira. Gostei da idéia e fui buscar pessoas em grupos culturais negros e alguns deles, tiveram a oportunidade de pisarem pela primeira vez em um palco, naquele espetáculo. O “Oh, que delicia de negras” foi escrito por Ney Lopes, com músicas de Cláudio Jorge e em uma participação especial lá estava o grande e eterno “Grande Otelo”. Otelo, sessenta anos antes, havia tomado parte naquele que até aquela data, havia sido o último espetáculo encenado só por negros e naquele espetáculo voltava feliz pela idéia e pela lembrança. Quando produzi aquele espetáculo não foi para mostrar igualdade ou desigualdade entre negros e brancos. Foi, isto sim, para mostrar uma arte que recebemos “de graça” de nossos antepassados e que foi muito bem transportada para o papel por Ney Lopes e Cláudio Jorge.

Hoje fico triste quando vejo que o racismo não acabou na cabeça de muitos. Vejo que o ministro da Igualdade Racial, aliás, comandante de um ministério que não vejo necessidade de existir já que temos leis para dirimir quaisquer dúvidas, mas o ministro anuncia que estão sendo criadas “delegacias especiais” para atender vítimas do racismo. Mas gente, se a luta é por igualdade, por que essa desigualdade? Isso só vai servir para marcar mais ainda o racismo.

No momento em que o ministério vai criar um serviço especial para os negros, é ele, o ministério que está segregando o negro. Segregação também pode ser uma fala do presidente Lula, quando diz que assim como o Brasil elegeu um metalúrgico, a Bolívia elegeu um índio, será extraordinário se os Estados Unidos eleger um negro. E foi fundo quando falou: “Existe uma ponta de alegria na mente silenciosa de cada um de nós, se um negro for eleito nos Estados Unidos”. Não sei, mas isso para mim é segregação.

Mas voltando aos brasileiros, eu me pergunto: serei eu o racista ou racista é aquele que faz questão de segregar o negro, o branco, o índio ou outra qualquer raça? Por tudo que já vivi, sei que racismo não está na cor, mas sim, na cabeça de alguns. Por isso transfiro a pergunta ao Edson Santos: Serei eu o racista, ou racistas são aqueles que me chamam de “branco azedo”? Mas é bom que você saiba: não me sinto agredido de ser “branco azedo” porque tenho muito orgulho de ser brasileiro.

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